quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Alongamentos pré e pós corridas

http://o2porminuto.uol.com.br/scripts/materia/materia_det.asp?idMateria=3264&idCanal=6

Por Cesar Candido dos Santos

Apesar dos benefícios proporcionados pelo alongamento antes ou após a corrida ter se tornado um assunto polêmico entre os especialistas, a maioria dos corredores não abre mão de “esticar” a musculatura antes de dar suas passadas.

“O alongamento antes da corrida é uma forma de aquecimento. Ajuda a preparar a musculatura para o exercício. Ele deve ser feito com pouca intensidade, sem ir além do limite da flexibilidade, pois se forçar muito o atleta pode provocar uma distensão ou contratura”, diz Ronaldo Martineli, treinador da 5 Ways. “O recomendado é que o atleta faça um trote leve antes de iniciar o alongamento, principalmente nos dias mais frios, para ativar a circulação sanguínea", completa o técnico.

A série de alongamentos após os treinos também deve ser realizada com moderação, como explica Martineli. “O alongamento depois da corrida ajuda no relaxamento muscular e evita o desconforto. Em treinos com intensidade alta ou longas distâncias, a musculatura fica estressada. Se forçar demais, pode lesionar”, alerta o treinador, que orienta que exercícios para aumentar a flexibilidade sejam realizados em dias alternados aos treinos de corrida ou em outros períodos, com pelo menos seis horas de intervalo.

Confira abaixo dois vídeos com séries de exercícios de alongamentos para serem executados antes e depois da corrida.


Dicas para malhação

http://estilo.uol.com.br/ultnot/2009/09/09/ult3617u7495.jhtm

12 estratégias para potencializar a musculação

por Shâmia Salem (UOL)

Quanto mais massa muscular uma pessoa tem, mais calorias ela queima por dia, mais precisamente 120 a cada 1,4 quilo de músculo. E não precisa se esfalfar na ginástica: dados do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos mostram que basta puxar ferro pelo menos duas vezes por semana para evitar o acúmulo de gordura na região abdominal, o tipo responsável pela barriga de chope, além de hipertensão, diabetes e doenças cardíacas. "A musculatura forte também protege as articulações, o que diminui as dores e os riscos de lombalgia, artrose e atrite", completa a fisiologista do exercício Claudia Zamberlan, da Body Check Avaliação Física, Nutrição e Médica, em São Paulo

Outra boa notícia é que os resultados dos exercícios resistidos aparecem rápido: em menos de quatro meses há um aumento de até 10% da massa muscular e da força. Mas dá para agilizar ainda mais esse resultado ao colocar em prática as dicas abaixo - só não esqueça de pedalar, caminhar ou correr por cinco minutos depois da musculação para eliminar o ácido lático, que causa dor durante ou logo após a atividade física.

1. Se a intenção é ficar musculoso, faça os movimentos em velocidade moderada para lenta e dê pausas de dois minutos entre uma série e outra. "Nesse período o músculo se recupera do esforço e o praticante consegue realizar a próxima série com a mesma qualidade da primeira", fala a fisiologista do exercício Claudia Zamberlan.

2. Já se o objetivo é tonificar sem ficar 'grande', o truque é usar pouca carga, fazer os movimentos em velocidade moderada para rápida e um intervalo entre as séries de cerca de 1 minuto. E mantenha o músculo trabalho contraído durante todo o tempo.

3. Para emagrecer, use um pouco mais de carga do que o habitual e descanse no máximo 30 segundos entre as séries.

4. Deixe a parte aeróbica para depois da musculação. "Se fizer antes, como normalmente acontece nas academias, vai achar o treino pesado e o cansaço vai bater mais rápido do que de costume", avisa o personal trainer Eduardo Gurgel, do Rio de Janeiro.

5. O treino estacionou? Experimente mudar a planilha. "Quanto mais variar os exercícios, mais estímulo vai dar às fibras musculares", garante Eduardo Gurgel.

6. Para um abdômen tanquinho, só abdominal não resolve. É essencial também queimar os excessos para que a musculatura trabalhada apareça sob a pele. "Para isso, é preciso fazer atividade aeróbica de baixa a média intensidade, ou seja, de 55% a 70% da frequência cardíaca máxima", avisa o personal trainer Christian Monteiro, do Rio de Janeiro. Para descobrir o número, a pessoa deve subtrair sua idade de 220 e, do total, verificar quanto é 55% e, depois, 70%. O resultado é o número médio de vezes que o coração deve bater a cada minuto de corrida, caminhada ou pedalada, por exemplo.

7. A forma de se certificar que o exercício está mesmo trabalhando a área desejada é perceber se a musculatura da região está cansada logo depois da série.

8. Nada é tão eficaz para malhar as coxas e os glúteos como o agachamento e os exercícios com caneleiras. "Como eles são mais puxados, faça-os logo no início do treino, quando o corpo ainda está descansado", recomenda Christian Monteiro.

9. Dificultar a execução do movimento é uma forma de potencializar a ginástica. Para isso, invista em barras, caneleiras e halteres, que exigem mais concentração e força para manter a postura correta e levantar a carga. A regra só não vale para os iniciantes, que, por uma questão de segurança, devem se limitar aos equipamentos até adquirirem consciência corporal.

10. Outra dica para quem está começando é fazer de duas a três séries de 15 a 20 repetições com menos carga para não se machucar nem ter que ficar de molho.

11. Sentir-se capaz de fazer duas ou mais repetições ao fim de cada série é sinal de que está mais do que na hora de aumentar a carga.

12. Jamais trave a respiração durante o movimento para não aumentar a pressão arterial. Para ficar mais confortável e até ter a sensação de que o peso ficou mais leve, expire pela boca quando levantar ou empurrar o peso e inspire pelo nariz ao voltar à posição inicial.


sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Começou o Centenário - Ato I - Cena 1




















(Texto da Folha de S. Paulo - Paulo Galdieri/Ricardo Viel)

O Corinthians fez do clássico com o Santos o prato principal da celebração de seu 99º aniversário. E o desfecho da noite festiva no Pacaembu não poderia ser mais à moda corintiana do que foi: sofrida, com gol aos 44min do segundo tempo.
Chicão, o capitão, foi quem personificou o enredo do jogo. Foi dele, contra, o gol que abriu o placar, apesar de o juiz dar o crédito a um santista. Foi dele, de cabeça, o gol que decretou o 2 a 1 que ainda deixa o time com esperanças de entrar mais diretamente na luta pelo título.
Agora, com 36 pontos, a equipe do Parque São Jorge subiu para a quinta colocação, com um ponto a menos que o São Paulo, o quarto colocado.
Ao Santos coube o gosto amargo de ter ficado só perto de estragar a festa de seu maior rival. Perdeu ainda a chance de ultrapassá-lo na tabela. O time da Baixada fica com 32 pontos.
A comemoração com a torcida pelo 99º aniversário de fundação do Corinthians foi toda planejada para o clássico.
Um minidirigível controlado remotamente passeava por sobre o estádio do Pacaembu com a frase "Noventa e 9 anos, o centenário já começou".
Um vídeo com momentos marcantes na história corintiana foi exibido no telão.
Muitos dos lances eram justamente em partidas contra o rival da noite, como a semifinal do Paulista de 2001 (gol de Ricardinho no último minuto, que eliminou o Santos), o 7 a 1 em 2005 e a primeira partida da final do Estadual deste ano, com dois gols de Ronaldo na Vila Belmiro, na vitória por 3 a 1.
As torcidas organizadas também homenagearam o clube, com bandeiras e fogos de artifício que formavam o 99.
Com o bola rolando, porém, o clima não foi tão ameno assim. O primeiro tempo foi quase que todo dominado pelos corintianos, mas o 0 a 0 persistiu. Souza, que voltou a ser titular do ataque do Corinthians, foi considerado pela torcida como o grande responsável por isso. O centroavante teve pelo menos duas chances claras para marcar, mas as desperdiçou.
Na segunda etapa, o Santos começou com um posicionamento mais adiantado, com jogadas pelos lados do campo, paradas por faltas dos corintianos. E dessa forma, aos 6min, o Santos abriu o placar. George Lucas cruzou, Eli Sabiá desviou, e Chicão, na tentativa de evitar que a bola entrasse, a empurrou para o gol -a arbitragem deu gol de Fabão.
A torcida foi da homenagem à impaciência com os erros do time e com qualquer decisão do árbitro. O técnico Mano Menezes fez o mesmo, a ponto de ser expulso por reclamação.
O alívio para os corintianos e o começo da dor de cabeça dos santistas veio aos 35min, com gol de Bill, o primeiro do atacante pelo Corinthians.
E o resultado que remediava se tornou novamente um motivo para celebração. Foi complementado aos 44min, quando Chicão completou jogada ensaiada em cobrança de falta. Lance que fez a torcida entoar "Parabéns a você". Afinal, o presente acabara de ser dado.


Frase do Elias:

"Nós criamos chances e merecemos, mas foi uma vitória do jeito que a torcida gosta, e que a gente detesta"

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Palavras não bastam...








Palavras não bastam. Mas vou usar as do Juca Kfouri:

O Corinthians acaba de entrar em seu centésimo ano de vida.
Vida de glórias e de dores.
Um centenário que deve ser comemorado pelo significado do fenômeno do corinthianismo.
Fenômeno que fez do Corinthians o clube mais popular do Estado mais populoso e economicamente mais importante do Brasil.
Nenhum outro clube brasileiro tem, em seu Estado, tantos torcedores como tem o Corinthians em São Paulo, que deveria se chamar Corinthians.
E por que, se o Corinthians não é nem mais campeão que seus rivais e nem estádio tem?
Porque certas coisas são inexplicáveis e para o corinthiano ser ou não campeão é mero detalhe.
Razão pela qual o centenário corinthiano deve ser comemorado por si mesmo.
Se junto vierem novas conquistas, muito bem, nada contra.
Mas a maior conquista é estar vivo, há 99 anos, no coração do povo corinthiano.
Com a certeza da eternidade.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Felizes pais paulistas


Estou escrevendo para parabenizar os bons pais em todo o mundo, mas também para tratar de uma notícia que, às vésperas do dia dedicado a eles, é um ótimo presente aos que vivem no Estado de São Paulo: seus filhos viverão em um mundo melhor! (ou pelo menos em um SP melhor).













A partir de 7 de agosto de 2009, entra em vigor lei estadual que proibe poluir alguns ambientes públicos com fumaça de cigarro, colocando o Estado em linha com outras sociedades ao redor do mundo que praticam o zelo pela vida e saúde de quem quer viver e estar bem. Naturalmente, desocupados de cafeteria ficarão blablablando se a lei é totalitária ou se fere a própria ordem jurídica. Mas o que importa é que, enquanto isso, seus filhos irão às baladas respirar um ar melhor e beijar pares menos fétidos. E crescerão mais saudáveis e sociáveis. E poderemos celebrar mais uma contribuição pacífica à evolução da espécie.

domingo, 2 de agosto de 2009

Rejuvenescimento de marca


Uma famosa cafeteria da Av Paulista resolveu mudar seu nome e logotipo. É o que no marketing se chama rejuvenescimento de marca:




Deu no New York Times... (1)

http://viagem.uol.com.br/ultnot/2009/07/31/ult4466u649.jhtm

Mergulhe nas loucas noites de São Paulo
SETH KUGEL
New York Times Syndicate

As áreas de vida noturna padrão na zona sudoeste de São Paulo - o Itaim Bibi, para o público endinheirado, e a Vila Madalena, onde um público (ligeiramente) mais boêmio lota os bares com mesas ao ar livre - ainda mantêm sua força. Mas um renascimento está em andamento mais próximo do centro da cidade, mais especificamente no lado "ruim" da Avenida Paulista, a importante artéria que separa o centro dos bairros de classe mais alta da zona sudoeste da cidade.

Isto é especialmente verdadeiro ao longo da Rua Augusta e das duas vias paralelas que a flanqueiam, a Rua Bela Cintra e a Rua Frei Caneca - uma área cada vez mais tratada como Baixo Augusta. Até grande parte desta década, ali era uma região de luz vermelha, cheia de prostitutas de rua e clubes de sexo. Mas nos últimos anos, ela também se tornou uma região de clubes gays, uma região de lounges, de pontos de encontro de adolescentes, até mesmo uma região de velhinhas levando seus cachorros para passear. É um local bastante interessante no qual passar um começo de noite: um manicômio onde vale tudo.

Há lugares elegantes como o Mestiço (Rua Fernando de Albuquerque, 277; 11-3256-3165;
http://www.mestico.com.br/), um restaurante tailandês com combinação colorida de pratos do Brasil e da Índia. Ou experimente o Exquisito (Rua Bela Cintra, 532; 11-3151-4530; http://www.exquisito.com.br/), um dos poucos lugares na cidade que servem o que os americanos chamam de cozinha pan-latina.

Do outro lado da rua fica o Geni (Rua Bela Cintra, 539; 11-3129-9952;
http://www.geniclub.com.br/), um clube com vários andares em um velho casarão que já abrigou de tudo, de clínica de saúde a bordel (ou pelo menos é o que dizem os garçons; é no mínimo um bom marketing), e agora conta com pista de dança e minilounges temáticos.

Mas dois clubes gays - ou mais precisamente clubes GLS (a sigla brasileira para gays, lésbicas e simpatizantes) - estão no coração da vida noturna local. Um é o Vegas (Rua Augusta, 765; 11-3231-3705;
http://www.vegasclub.com.br/), uma discoteca com uma festa after-hours que prossegue até depois do amanhecer. Fecundo Guerra, o proprietário, abriu dois novos bares em março: o Volt (Rua Haddock Lobo, 40; 11-2936-4041; http://www.barvolt.com.br/), com letreiro de néon remetendo aos velhos tempos ruins da Augusta, e o Z Carniceria (Rua Augusta, 934; 55-11-2936-0934; http://www.zcarniceria.com.br/), situado em um antigo açougue/matadouro com ganchos de carne e arte com tema de carne, mas oferecendo muitas opções vegetarianas no cardápio.

Outro clube GLS é o A Loca (Rua Frei Caneca, 916; 11-3159-8889;
http://www.aloca.com.br/), uma boate labiríntica, semelhante a uma caverna, com pista agitada, dominada por homens. Se "homens" ou "dança" não é o seu lance, há muitos outros espaços disponíveis. Ela é tamanha referência que o bar sem letreiro descendo a quadra simplesmente se chama bar da Loca - ninguém parece saber seu verdadeiro nome.

Também há um quê de Nova York no ar, com uma muito rara (no Brasil) pizarria por fatia, parte de uma pequena rede chamada O Pedaço de Pizza (Rua Augusta, 1463; 11-3285-2117;
http://www.opedacodepizza.com.br/), e o Astronete (Rua Matias Aires, 183-B; 11-3151-4568; http://www.astronete.com.br/), um bar que parece saído de Williamsburg e dirigido por um casal brasileiro que já morou no Brooklyn. Um novo lounge, o Sonique (Rua Bela Cintra, 461; 11-2628-8707; http://www.soniquebar.com.br/), parece um ponto descolado saído diretamente do distrito de processamento de carne de Manhattan - até você perceber as diferenças sutis (a paixão por suco de fruta nas margaritas) e as óbvias (o casal de lésbicas se beijando ao lado do casal de gays, que se beijavam ao lado do casal hétero).

Mas o que você mais encontrará, especialmente nas noites de fim de semana, é confusão. Da boa, do tipo de São Paulo.

Tradução: George El Khouri Andolfato

Mens sana in corpore sano


Frase do Cielo sobre o estado do corpo e da mente durante uma prova: "Você chega a um ponto em que não sente mais nada. É só a sua mente e o controle dela".
Lembrou-me uma frase que ouvi da atriz e preparadora de atores Cristiane Lopes (e que ela declarou não ser de autoria dela mas também não lembrou o autor): "Um corpo debilitado controla. Um corpo forte é controlado". Acho muito bacana como a frase parece paradoxal mas é completamente verdadeira.

sábado, 1 de agosto de 2009

Entrevistas que gostaríamos de ver...














Primeira entrevista coletiva do nadador César Cielo no Brasil, após retornar do Mundial de Esportes Aquáticos em Roma:

JORNALISTAS: Cielo, por que você se recusou a ir a Brasília encontrar o Presidente Lula após as conquistas no Mundial (medalhas de ouro nos 50m e nos 100m nado livre, além de recorde mundial nesta última)?
NADADOR: Porque aprendi com o Presidente Lula que é preciso respeitar a biografia de cada pessoa. No Brasil, existem muitas dezenas de milhões de pessoas cuja biografia se pauta em trabalho árduo, perseverante e honesto, mas sem a devida contrapartida do incentivo adequado, seja na forma de infraestrutura para trabalhar, seja na forma de remuneração ou condição de vida digna. Por outro lado, existem milhares de pilantras que se aboletam em estruturas de poder e assumem como único valor profissional para suas vidas não trabalhar e serem sustentados pela população obrigada a pagar impostos – na marioria das vezes enriquecendo inclusive. A minha biografia enquadra-se no primeiro grupo. A do Presidente Lula e da corja cujas biografias ele defende, numa tentativa de legitimação da pilantragem e da vagabundagem sustentada, enquadram-se no segundo. Quero respeitar a minha biografia e não me misturar com essa escória.

JORNALISTAS: Você acredita que a natação e o esporte brasileiro vão crescer muito após suas vitórias?
NADADOR: Não vão crescer nada. Eu sou um caso isolado, de um brasileiro que, de tão obcecado por um ideal, foi buscar preparação em um lugar adequado (fora do Brasil, obviamente). O que conquistei foi mérito meu, não do Brasil. O Brasil não prepara suas crianças e jovens para grandes avanços ou grandes conquistas. Não as ensina a ler, nem a fazer contas, nem a pensar, nem a exercitar, conhecer e desafiar o corpo através de esportes. Apenas as doutrina a acreditar que a obrigação que elas terão em votar quando chegarem à idade será o seu “exercício de poder”. Fazem-nas acreditar na baboseira de que “o voto é a arma do povo”. E como as crianças não estão acostumadas a pensar e, portanto, não compreendem as estruturas de poder e de sua perpetuação, caem nesse conto do vigário. Esporte começa nas escolas. E não temos escolas. Somos um país de analfabetos.

JORNALISTAS: E seus planos para o futuro?
NADADOR: Continuar treinando em Auburn, que é uma cidade caipira no meio do nada, mas que oferece aos seus habitantes uma bela universidade e uma infraestrutura para se estudar e para se praticar esportes como não se vê no Brasil. Quero nadar os 50m abaixo dos 21s. Na água, o Cielo é o limite!

DISCLAIMER: ESSA ENTREVISTA, INFELIZMENTE, É FICTÍCIA. AS FALAS, EMBORA CONDIZENTES COM A REALIDADE, SÃO CRIAÇÕES DO AUTOR DESSE BLOG. NÃO SÃO FALAS REAIS DOS PERSONAGENS SUGERIDOS.

Educação Sexual


Meses atrás, recebi um e-mail com fotos scanneadas de um livro alemão para crianças com o tema "COMO NASCEM OS BEBÊS". Gostei muitíssimo da proposta do livro e reproduzo aqui as páginas que vieram anexas ao e-mail.








































Caso algum leitor do blog se habilite a traduzir o texto do livro (basta clicar nas imagens para vê-las ampliadas), sinta-se à vontade.
Algumas perguntas me ocorreram ao olhar para as figuras acima... A primeira é: por que a sra Mutter e o sr Vater transam em cima de um bolo confeitado (e o bolo não desmancha)? A segunda é: por que o carro deles tem a mesma decoraçao do bolo onde eles transam? Terceira pergunta: o Geraldo Alckmin, após perder as últimas eleições no Brasil, foi exercer a medicina na Alemanha?
Mas acho que minha principal curiosidade vai continuar sem resposta: o que acontece entre as figuras 3 e 4 (da penetração e da sra Mutter aparecendo grávida)? A resposta mais criativa ganha um Kinder Ovo.

sábado, 18 de julho de 2009

Tecnologia: Nokia 7710 vs Samsung Omnia


Antes de me etiquetar como economista, o MEC me etiquetou como engenheiro eletrônico (embora, felizmente, eu nunca tenha sido etiquetado pelo Corecon nem pelo Crea). Apesar de eu desconfiar que o "engenheiro eletrônico" seja apenas um diploma jogado no armário, sei que o "entusiasta eletrônico" sempre existiu e continua existindo.

E é justamente esse entusiasta que é fascinado pela convergência tecnológica dos celulares. Uma das convicções que tenho é que nada foi tão revolucionário e transformador no século 20 do que as tecnologias de processamento digital e de telecomunicação de dados (leia-se: computadores, comunicação em broadcast, telefones e internet). E se as palavras-chave da tecnologia no século 20 foram processamento e telecomunicações, as do século 21 são convergência e mobilidade. Tecnologia sem fio (leia-se: mobilidade) e tecnologia tudo-em-um (leia-se: convergência) são as novas palavras de ordem. E nada representa melhor essa tendência do que celulares.

Em 2005, eu já buscava um aparelho onde eu pudesse, além de telefonar, tirar fotos e ouvir música, usar planilhas - tanto editadas no próprio celular quanto no computador (com o qual o celular pudesse ser sincronizado). No início de 2006, esbarrei com o Nokia 7710, que era touchscreen (para ser usado preferencialmente com uma canetinha stylus) em tela horizontal e com ícones fixos e não muito grandes. Era bem volumoso mas muito funcional. Além do báscio telefonar/tocar música/fotografar, sincornizava bem com o computador, tinha leitor de PDF e aplicativos editores de texto, planilha e apresentações. Na época do lançamento do iPhone, no último trimestre de 2007, eu já usava o 7710 havia um ano e meio e, pelas reportagens que via sobre o novo brinquedinho da Apple, não conseguia perceber vantagens (para além do design) que justificassem todo o frisson em torno dele. Quando, enfim, deparei-me ao vivo com um iPhone, percebi, aí sim, a vantagem da navegabilidade...

Mesmo assim, não quis aderir ao iPhone. Incomodo-me demais com a incompatibilidade que produtos Apple têm com qualquer coisa que não seja Apple, e não gosto que empresas tentem usar a "escravização" dos clientes como estratégia. Amigos me dizem que a Microsoft faz o mesmo. Não discordo, mas, pelo menos no caso da Microsoft, o sujeito fica atado a algo que todo mundo usa e com que ele vai esbarrar em qualquer esquina (e qualquer banca de camelô).

Minha decisão, então, foi que eu esperaria os concorrentes lançarem "similares do iPhone compatíveis com a Microsoft". E é aí que chegamos ao Samsung Omnia. Fino, com design mais bonito que o do iPhone e a mesma lógica de navegabilidade, roda Windows Mobile e é, de fato, uma opção bem interessante para os non-Apple. De todo modo, como nenhuma tecnologia é perfeita, sinto falta de alguns recursos de que o 7710 dispunha e que o Omnia não traz. Aí vai, então, uma avaliação do Omnia tomando o 7710 como referência...
















Design e navegabilidade. Sem dúvida, o grande trunfo do iPhone e dos seus sucessores (incluindo aí o Omnia)! O Omnia é fino (e com capa fina), prateado/espelhado, com disposição padrão vertical mas com tecnologia piezoelétrica que permite à tela ajustar-se às posições vertical e horizontal (a câmera, por exemplo, funciona na horizontal), tela grande, ícones grandes e deslizantes e touchscreen fotoelétrico (ou seja, que pode ser usado com os dedos ou com caneta stylus, ao contrário do iPhone, que funciona a partir da capacitância da pele humana e, portanto, não pode ser usado com stylus ou com luvas).
As desvantagens ficam por conta da "arquitetura de navegação" (os caminhos até as funções são usualmente tortuosos), do péssimo botãozinho que deveria funcionar como cursor e de duas aparentes consequências da finura do aparelho: um pouco prático botão liga/desliga e a existência de uma única porta (de difícil acesso) para qualquer conexão física (seja carregador de bateria, cabo de sincronização com o computador ou fone de ouvido, por exemplo).

Sistema operacional, aplicativos Office, Internet e e-mail. Goleada do Omnia, que usa o sistema operacional Windows Mobile, em detrimento do desastroso Symbian, que trava o tempo todo e é a plataforma do 7710 e de todos os smartphones Nokia. Quanto a aplicativos Office, ponto para o Omnia, onde se pode trabalhar diretamente em Word, Excel, Powerpoint e Outlook, e não em similares. Logicamente, a tela do computador é bem mais confortável, mas, em caso de necessidade, está tudo lá no Omnia. O quesito Internet/e-mail é covardia... enquanto o Omnia navega com Opera ou Internet Explorer via wi-fi ou 3G, o 7710 ainda não era 3G. Logicamente, qualquer navegação wi-fi ou 3G supera a insuportavelmente lenta e cara GPRS.

Conectividade e sincronização com o computador. Enfim, ponto pra Nokia! O aplicativo Nokia PC Suite permitia ao 7710 (e a qualquer smart da fabricante) comunicar-se com o computador via cabo, infravermelho ou bluetooth. A instalação era fácil e rápida e a conexão era boa, rápida e de fácil uso. Às vezes, era desconfigurada e requeria reinstalação, mas só muito de vez em quando. Além disso, ao final de cada sincronização, podia-se ver um relatório com as informações que tinham sido adicionadas, excluídas, modificadas ou que apresentavam conflito. Isso permitia ao usuário ter certeza de quais informações estavam tanto no computador quanto no celular após a sincronização.
Já o péssimo ActiveSync, da Microsoft, não oferece esse relatório ao final da sincronização e, além disso, só permite conexão bluetooth em versões superiores à 4.5.0, sendo que estas só rodam em Windows Vista. Ou seja, usuários de versões Windows anteriores ao Vista têm que manter-se na "era do cabo". (Obviamente que, no aplicativo da Microsoft, conexão infravermelha fica fora de cogitação).

Funções de telefonia. Outro ponto para o Nokia 7710! Como já comentei, a "arquitetura de navegação" do Omnia é desastrosa. Os caminhos pelos menus são longos e pouco intuitivos até se chegar onde se quer. E um dos casos em que isso se torna mais irritante é ao telefonar para alguém. Encontrar o telefone de alguém na agenda requer muita digitação e muitas telas.
Tudo poderia ser facilmente resolvido com um recurso de chamada por voz. Mas quem disse que o Omnia oferece tal função (que era uma das maravilhas do 7710)?

Fotos, vídeos, músicas, rádio e textos PDF. A câmera de 5Mp do Omnia faz boas fotos e bons vídeos (para as limitações de uma câmera de celular) mas não tem zoom, o que, em se tratando do zoom digital comum em câmeras de celular (dada a pouca funcionalidade de um zoom óptico em aparelhos assim), não sei se é propriamente uma desvantagem. Músicas e vídeos rodam em Windows Media Player e o grande problema aqui é, novamente, a péssima arquitetura de navegação. Haja cliques e telas para se montar uma lista de músicas que se quer ouvir. Rádios FM podem ser ouvidas com o fone de ouvido conectado, funcionando como antena (tal qual no 7710). Por fim, a leitura de PDFs é tão ruim quanto era no 7710. Essa, por sinal, é uma tecnologia que ainda precisa convergir decentemente para os celulares: os e-books. Está aí, talvez, a próxima fronteira.

PS: O GPS e o Google Maps do Omnia eu ainda não usei. Não tenho como avaliar.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Meninos de Kichute

Chora, chorolado!


Escrevo esse post com quase duas semanas de atraso, mas não poderia deixar passar em branco...

A patética atitude do vice-presidente do Internacional - que, às vésperas da final da Copa do Brasil contra o Corinthians, resolveu apresentar à imprensa um DVD com uma coletânea de supostos favorecimentos dos árbitros ao Timão (subtexto: "Árbitros, não temos condições técnicas, táticas, físicas ou emocionais de sairmos do gramado campeões na final. Então, deem-nos uma forcinha, pelo amor de Deus!") - foi retribuída dentro de campo (com o Coringão, que já havia vencido por 2x0 o primeiro jogo, abrindo mais 2x0 logo nos primeiros 30 minutos de jogo) e na arquibancada (com a Fiel dando nova letra à paródia que a torcida chorolada faz da canção dos Mamonas Assassinas - ver vídeo abaixo).


Esportes intensos e sedentários


Achei curioso o resultado da pesquisa abaixo! Eu, que fui mega-sedentário quando criança/adolescente, sempre curti jogar basquete, e nunca tive a menor atração por jogar vôlei.


E viva um amigo meu, que diz que pratica "triatlo indoor": truco , sinuca e pebolim.

QUAIS SÃO OS ESPORTES MAIS SEDENTÁRIOS?

O bilhar é o esporte que gasta menos calorias, de acordo com o livro Fisiologia do Exercício, de William McArdle, mas é impossível definir um ranking oficial. “Existem centenas de variáveis envolvidas. Um mesa-tenista pode gastar mais calorias em uma partida do que um jogador de futebol em um jogo inteiro”, diz o médico Samir Daher, da Confederação Brasileira de Handebol. O ritmo com que o esporte é praticado, a frequência, o biótipo do praticante e o deslocamento exigido pelo jogo são alguns dos fatores que devem ser levados em consideração. Assim, não há uma lista definitiva dos esportes mais e menos sedentários, e sim estimativas. A lista abaixo, por exemplo, estima quanto um indivíduo com 70 quilos gasta de calorias durante uma hora de atividade. Aliás, nem o conceito de esporte é consenso: aqui, consideramos esporte toda atividade física sujeita a regulamentos e que geralmente visa a competição. No futuro, quem sabe até jogar videogame vá ser considerado um esporte. Se isso acontecer, o Nintendo Wii pode entrar para a lista dos sedentários: em uma hora, ele queima 150 calorias, de acordo com um estudo da Universidade John Moores, na Inglaterra. :-’)

MOLEZA F.C.
Os esportes mais sedentários...

BILHAR (176 kcal)
É um esporte que requer mais concentração do que força física. Como há poucos deslocamentos – e, quando existem, são curtos e lentos –, não acelera muito o metabolismo

CANOAGEM por lazer (185 kcal)
Na canoagem amadora, não é preciso lutar contra correntezas fortes – o esportista apenas segue o fluxo da água, sem contrações muito vigorosas para executar o movimento

DANÇA LIVRE (214 kcal)
Por não ser profissional, requer só movimentos suaves, sem grandes deslocamentos ou movimentos complexos. Com isso, acaba gastando menos calorias

VÔLEI (245 kcal)
Apesar de exigir saltos e movimentos intensos, tem deslocamentos extremamente curtos, de 2 a 3 metros, que reduzem o consumo calórico

ARCO-E-FLECHA (273 kcal)
O esporte depende mais da parte psicológica. O esforço físico fica concentrado nos braços, que precisam segurar o arco corretamente e aguentar o tranco da flechada

DUREZA F.C.
... e os que mais fazem suar

BOXE (932 kcal)
O esporte exige que o atleta se desloque bastante e dê vários pulinhos de um lado para outro para desviar do adversário, fora a energia gasta com os golpes

SQUASH (890 kcal)
Bater a bolinha contra a parede parece brincadeira de criança, mas envolve muito deslocamento, velocidade, flexibilidade, força e resistência

JUDÔ (819 kcal)
Assim como as outras artes marciais, é um esporte que exige força, daí sua queima calórica. Sua prática também requer flexibilidade e coordenação motora

NATAÇÃO - CRAWL (655 kcal)
Ao nadar nesse estilo, também conhecido como nado livre, o esforço maior fica por conta das pernas, dos braços e das costas, apesar de o esporte trabalhar o corpo todo

BASQUETE (580 kcal)
A queima de calorias é beneficiada principalmente pelo deslocamento em quadra. Cada atleta percorre, em média, 8 quilômetros durante uma partida

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Interpretação de texto


Em homenagem ao novo Enem, um pequeno exercício de interpretação de texto:

Homem falha ao tentar engravidar mulher do vizinho


"
Um homem que vive na Alemanha foi processado por não conseguir engravidar a mulher do vizinho, depois de ser contratado por 2 mil euros (cerca de R$ 5,7 mil) para isso.
Demetrius Soupolos e a mulher, Traute, queriam ter uma criança, mas descobriram que Soupolos não poderia ter filhos. Por isso, decidiram contratar Maus, na esperança que o homem casado e com dois filhos pudesse engravidar Traute. A informação foi divulgada pela publicação alemã "Bild".
Depois de seis meses e nenhuma gravidez – com uma média de tentativas de três vezes por semana –, Soupolos insistiu para que Maus passasse por exames médicos. Os testes mostraram que o vizinho também é estéril. Por isso, a mulher de Maus foi obrigada a admitir que as duas crianças não eram dele
."

Agora responda: o que é pior?
1) Descobrir que é estéril.
2) Contratar o vizinho para pegar sua mulher por seis meses, ou seja, escolher ser corno (depois de descobrir que é estéril).
3) Ver que, após seis meses, o contrato de cornice não está surtindo o efeito esperado, ou seja, depois de ser estéril e corno, sentir-se lesado financeiramente.
4) Levar o caso à justiça, ou seja, estéril, corno, lesado financeiramente e nas mãos de advogados.
5) Descobrir que você é estéril enquanto tenta engravidar a mulher do vizinho.
6) Descobrir que os dois filhos que você tem não são seus, ou seja, além de estéril, ser corno.
7) "Cornear" o vizinho e descobrir que já foi corno, no mínimo duas vezes.
8) Todas as anteriores.

(crédito: questionário inspirado em proposta de Fernanda Faria)


Metas de inflação e crescimento


Essa veio de um trabalho apresentado pelo prof dr Gilberto Libânio, PhD em economia e professor de macroeconomia na UFMG, e de um posterior almoço com ele...


No Brasil, passamos os últimos anos ouvindo reclamações sobre a estratofésrica taxa básica de juros (taxa Selic), sempre justificada pelo Banco Central como um mal necessário devido ao regime de metas de inflação, e o efeito nefasto dessa elevada taxa sobre o crescimento da economia do país. Em uma análise bastante interessante, o trabalho esmiuça um mecanismo de acordo com o qual um desaquecimento na economia acaba tendo como consequência em um país que adote metas de inflação (e que tenha endividamento) uma elevação na taxa básica de juros, ou seja, um resultado que agrava ainda mais o desaquecimento inicial. É o que economistas chamam de um mecanismo pró-cíclico.

O mecanismo é o seguinte:
1) o desaquecimento na economia gera queda na arrecadação tributária;
2) a queda na arrecadação aumenta a chance de o país não honrar suas dívidas (elevação do risco-país);
3) a elevação do risco-país faz investidores internacionais retirarem divisas (moeda estrangeira) do país, provocando, assim, um encarecimento da moeda estrangeira (desvalorização cambial da moeda local);
4) a desvalorização cambial pressiona a inflação (dependendo do quanto os preços dos produtos no mercado doméstico estiverem atrelados a importações ou mesmo a bens "exportáveis"), o que faz a autoridade monetária elevar a taxa de juros.

O remédio?
A primeira engrenagem que percebemos que pode ser invertida - consequentemente, invertendo o mecanismo - é o endividamento do país. Se a dívida com credores internacionais for menor ou até mesmo negativa (caso de um país credor, como o Brasil é hoje), o passo 2 do mecanismo se enfraquece ou nem mesmo se concretiza.
Outra possibilidade é uma atuação no passo 3 do mecanismo: controle de capitais. Se o fluxo de capital estrangeiro for sujeito a mais restrições legais, oscilações no risco-país podem ter seus efeitos sobre o câmbio mais amortecidos.

Curiosamente, escrevo esse post exatamente na semana em que a taxa básica de juros do Brasil foi reduzida para um dígito (apesar de continuar sendo uma das mais altas do mundo) e em um momento em que o país é credor externo. Ou seja, o mecanismo pró-cíclico descrito acima está desfeito e os macroeconomistas precisam procurar outro motivo para esbravejar contra o Banco Central. No almoço que tive depois com o Gilberto, ele arriscou seu palpite para as bravatas dos próximos anos: câmbio sobrevalorizado, com o enfraquecimento do dólar e a inundação promovida pelo Tesouro americano.

Penso que faz sentido!

23 anos em 7 segundos

quinta-feira, 11 de junho de 2009

O fim da classe média


Artigo do Gilles Lapouge, correspondente do Estadão em Paris, na edição de 8 de junho de 2009 do jornal.

Não concordo inteiramente com o texto, mas jogo no ventilador e deixo os comentários para depois...

O fim da classe média

De tempos em tempos, anunciam a morte da classe média. Ramon Muñoz o fez recentemente num belo artigo do jornal espanhol El País. Muitos outros "avisos de falecimento" o haviam precedido. Alguns anos atrás, o francês Louis Chauvel falava das "classes médias à deriva", e o sociólogo Jean Lopkine anunciava que as classes médias haviam desaparecido, que elas continuavam a funcionar como "mito".

O ponto comum entre todos esses veredictos é o pessimismo, o medo e a inquietação. Eles parecem elogios fúnebres. Consideram que o declínio da classe média provocará grandes desordens sociais e políticas. E têm razão. Então, a classe média não constitui a coluna vertebral da economia de mercado, um penhor de estabilidade e o motor das mudanças? Se ela desaparecer, a sociedade entrará em parafuso. Aristóteles, este velho grego que viveu cinco séculos antes de nossa era, nos havia prevenido: "A classe média é a fonte da estabilidade democrática".

No entanto, embora todo o mundo esteja de acordo sobre essa agonia silenciosa da classe média, um ponto continua obscuro: ninguém sabe exatamente o que é a classe média. Mesmo a sua data de nascimento é desconhecida. Alguns a situam após 1945, durante os 30 anos de grande enriquecimento dos países avançados. Outros a remontam ao século 19, o século da máquina a vapor da burguesia. E Aristóteles já a conhecia!

Há incerteza até no que concerne a seus contornos. Ela tem uma geometria variável. Ela não é a mesma, não tem nem a mesma periferia, nem o mesmo conteúdo na primeira revolução industrial, ou em 1960, no tempo dos colarinhos brancos, ou em 2000, após a revolução informática.

Essa classe média muda também segundo o olhar dos observadores. Para uns, ela é formada pelos que ganham 1 mil (R$ 2.755) por mês. Para outros, engloba também os que têm uma receita mensal de 3 mil. É por isso, aliás, que durante muito tempo se falou não "da" classe média, mas "das" classes médias, a superior e a inferior.

Trata-se, portanto, de um objeto delicado, tão escorregadio como um sabonete molhado.

Vamos ao mais simples, portanto: esse conceito designa simplesmente a classe intermediária que se estende entre a classe rica e a classe pobre. Essa classe, outrora abastada, honrada, respeitada, tornou-se quase indigente. Ela sobrevive com 1 mil mensais, talvez.

De 1950 a 1975, essa classe intermediária cresceu bastante, pois era alimentada pelo fluxo dos antigos operários, empregados, camponeses que asce ndiam graças ao milagre econômico do pós-guerra.

Em compensação, de 1975 a 2000, assistiu-se ao movimento inverso: a classe média se esvaziou. O número de ricos e de muito ricos aumentou incrivelmente, enquanto uma grande parcela da classe média foi puxada para baixo e para a precariedade.

A classe média sofreu então duas mudanças: de uma parte, sua quantidade diminuiu, e de outra, sua renda baixou. Em 2008, 48% das pessoas pertencentes à classe média francesa não puderam tirar férias.

E hoje? O declínio prossegue e se acentua. A pauperização também.

Hoje, os que ontem pertenciam à classe média estão, com frequência, pobres, pessoas que recebem por mês, na Europa, apenas o suficiente para sobreviver: 700 por mês na Grécia, 1 mil na Espanha e 1.400 na Alemanha ou na França (aqueles a quem chamam de "mileuristas", palavra forjada na Espanha há alguns anos para designar os escombros dessa antiga classe média, em geral jovens ou estudantes que não dispõem de mais de 1 mil por mês).

Será o caso esperar que essa regressão seja um fenômeno temporário, uma síncope em vez de uma morte? Podemos supor que esse desastre esteja ligado à crise econômica e financeira que, partindo dos Estados Unidos, devasta o globo há um ano, essa espécie de morte cuja grande foice ceifa as fábricas, os bancos e as vidas? Infelizmente, não temos nenhuma razão para acreditar nisso.

Trata-se de um fenômeno profundo, lento e pesado. Ele opera no longo prazo, como um movimento de placa tectônica. Foi acelerado pela crise, mas não nasceu com ela. Já estava em ação antes dela. Ele começou bem antes da atual recessão. Isso significa que ele não é conjuntural, mas estrutural, não é aleatório, é fatal.

A prova? Ele é observado na totalidade dos países desenvolvidos, tanto na Polônia como na França, tanto na Alemanha como em Portugal, ou nos Estados Unidos. Acrescente-se a isso que ele progride mais ou menos com a mesma velocidade, seja qual for a ideologia, o talento ou a prática dos governos que estejam no comando. Direita, esquerda, centro, os governos podem mudar, mas o encolhimento da classe média persiste. O processo se desenvolve segundo seus ritmos e regras próprias. Ele prossegue seu curso imperturbável sejam quais forem as armas que os poderes utilizam para sustá-lo ou desacelerá-lo.

Eu me pergunto se esse declínio das classes médias, longe de ser uma consequência da crise financeira do ano passado, não seria, ao contrário, sua causa. O que se passou? A classe média americana, reduzida e necrosada há anos, havia conseguido maquiar sua própria agonia, mascará-la, apelando de maneira irrefletida e delirante ao crédito, que os bancos aliás forneciam de bom grado. A verdade é que "o rei estava nu", mas os bancos lhe emprestavam roupas para camuflar sua nudez.

Um dia, porém, o sistema bancário, solicitado insensatamente por essa classe média ávida por luxo e distinção, mas em via de pauperização, explodiu. Desde então, a classe média se encontrou tal como ela era de fato havia já muitos anos: nua, pobre e tiritando.

Se essa análise está certa, isso significaria que o fim eventual da crise (em 2010, 2011?) não teria por efeito ressuscitar, como por um golpe de vara de condão, essa classe média naufragada? Não. Uma vez extinta a crise, as sociedades retornarão à situação que prevalecia pouco antes dela, com, de um lado, uma enorme classe indigente, de outro, uma classe de pessoas cada vez mais ricas, mais indecentes, e entre as duas, os resíduos da antiga classe média.

Essa extinção progressiva das classes médias terá efeitos devastadores sobre o equilíbrio das sociedades. Uma coisa é importante: os novos pobres, cujo número aumenta de maneira exponencial, são antigos homens e mulheres da classe média. E eles conservam dela a lembrança, a nostalgia e os hábitos.

Pior ainda: esses novos pobres, provenientes das antigas classes médias, são educados. Entre os "mileuristas", encontram-se jovens formados em matemática, em ciências jurídicas, em letras, em belas artes. Espíritos brilhantes, formados e refinados. Ora, após concluir seus estudos, eles ganham, supondo que consigam emprego, 1 mil ou 2 mil. Portanto, amargura, desejo de revanche, desestabilização social, revolta ou revolução. Quem fez a Revolução Francesa de 1789? Os servos, os camponeses, os mendigos? Absolutamente. Esses estavam acostumados demais ao sofrimento para se revoltar. Os verdadeiros revolucionários foram os advogados sem causa, os intelectuais sem emprego, os curas desdenhados pelo alto clero.

Esse desequilíbrio entre os diplomas e os empregos (ou as rendas) longe de se reduzir só pode crescer. Hoje, em toda a Europa, os jovens aos quais não se oferece alguma ocupação não têm outra escolha senão continuar seus estudos. Temos, portanto, estudantes eternos, como nos romances de Dostoievski na véspera de uma outra revolução igualmente radical. Um estudante de 30 anos de idade é coisa corrente. E a cada ano chegam ao mercado novas multidões desvairadas, carregadas dos mais sólidos diplomas, aos quais a sociedade oferece situações grotescas, sombras de ofícios.

Ora, também aí, uma espécie de véu de ilusão é jogado sobre suas misérias. A sociedade técnica é de fato capaz de oferecer a esses jovens de alto nível intelectual, mas privados de todos os meios financeiros, ilusões, engodos. Por exemplo, todo o mundo dispõe de serviços gratuitos de internet, um verdadeiro luxo. E seria possível citar também outros engodos, outras ilusões, como as viagens a baixo custo que permitem ir até o fim do mundo quando as pessoas mal conseguem se alimentar. Não é raro um rapaz que vai e vem entre dois continentes ser constrangido, quando volta a seu país, a se alojar em pardieiros ou locais improvisados, com amigos, com outros decaídos da classe média.

Muitas vezes é a família que permite a esses jovens/velhos estudantes sobreviver e manter uma aparência de dignidade. É usual em cidades como Paris, Londres ou Praga, que um rapaz fique na casa de seus pais até os 30 anos de idade ou mais. Mas o sistema não é eterno. Aliás, os próprios pais estão sendo pouco a pouco vitimados pela pauperização. As aposentadorias diminuem, de sorte que os pais não podem mais ajudar seus filhos a sobreviver decentemente.

Contudo, embora os pais sejam também vítimas do declínio da classe média, eles continuam a desfrutar de uma vida mais digna e confortável que seus filhos. O desaparecimento, ou ao menos o esgotamento da classe média, produziu essa consequência perversa: hoje, os filhos sabem que não atingirão na sociedade um bem-estar igual ao de seus pais.

Até recentemente, o esquema era inverso: o filho vivia com a perspectiva, a promessa, de viver uma vida mais brilhante, mais bela, mais expansiva que seus pais. Essa perspectiva era um dos incentivos que impeliam os jovens a trabalhar para superar seus pais. Hoje, em lugar dessa esperança, ocorre um desestímulo, uma resignação, que estende sua sombra sobre qualquer um, como a asa da morte.

Uma regressão real e durável da classe média provocaria outros desequilíbrios na sociedade e, talvez, na civilização. Aristóteles falou corretamente quando viu nessa classe média uma ferramenta de estabilidade democrática. Se essa ferramenta se quebra, a sociedade corre o risco de ceder a todas as aventuras, a todos os perigos, a todos os suicídios. Isso já se evidencia num país como a França: a ampliação contínua do desemprego provoca reações epidérmicas muito perigosas. As greves viram enfrentamentos. Podem-se temer uma conflagração e revoltas selvagens.

Os sindicatos, essas "velhas raposas políticas", conseguiram até aqui evitar a passagem à violência cega. Mas eles são a cada dia ultrapassados pelas tropas que atingem tamanho grau de cólera que são tentadas pelo pior, brutalidades, agressões, depredações, etc.

Será possível evitar convulsões? Nada o garante. No passado, os mineiros, os operários metalúrgicos, os trabalhadores braçais menosprezados por seus chefes, travaram lutas sangrentas. O perigo hoje é ainda mais grave, contudo. As futuras revoltas poderão efetivamente nascer não dos que nunca tiveram acesso à "mesa do banquete" (como foi o caso dos grandes movimentos populares do século 19), mas dos jovens cujos pais tinham uma vida confortável, jovens que trabalharam para atingir os altos escalões da sociedade e que vegetam no submundo.

Esses jovens, massacrados pelo fim da classe média, veem a pequena camada dos ricos, dos riquíssimos, engordar às suas custas, habitar mansões das "mil e uma noites", levar uma vida de um luxo exagerado, exibicionista e vulgar em meio a uma profusão de ouro e caviar. Seu rancor aumenta em proporção à sua decadência. E algum dia, quem sabe, eles poderão optar pela revolta.



quinta-feira, 14 de maio de 2009

Mais uma sobre FIEL


É difícil saber como reagirá diante de "Fiel" um torcedor de outro clube ou um espectador indiferente ao futebol. Mas é provável que ele se comova com essa estranha paixão que leva milhões de pessoas de todas as classes e idades a fazer do sofrimento um valor positivo.

(José Geraldo Couto, Folha de S. Paulo, 9/abr/2009)

Regra ou discricionaridade?


Economistas são familiarizados com a discussão sobre a adesão a regra ou discricionaridade na condução da política monetária por parte de bancos centrais. Mas duas colunas do dr. Contardo Calligaris em edições recentes da Folha de S. Paulo (26/mar/2009 e 14/mai/2009, respectivamente) levam a discussão para o campo do Direito. Interessante!


Crimes insignificantes
É viável uma sociedade em que preocupações morais substituem as normas jurídicas?

A Folha de sábado passado (reportagem de Felipe Seligman e Sofia Fernandes) noticiou que, ao longo de 2008, o Supremo Tribunal Federal julgou 14 casos em que considerou "insignificantes" os crimes cometidos: as ações penais deveriam ser arquivadas e os culpados que estivessem presos deveriam ser soltos.
O que é um crime insignificante? Primeiro, o que foi roubado ou destruído deve ser uma bagatela, ou seja, pouca coisa (claro, a bagatela não pode ser definida de vez: o que é pouca coisa para mim pode não ser para você).
Segundo, ajuda o fato de que o crime tenha sido perpetrado, como notou o ministro Carlos Ayres Britto, por "extrema carência material". Por exemplo, seria insignificante roubar o básico se você e sua família passam fome. O ministro Celso de Mello acrescentou que o sujeito assim isentado não deve apresentar "nenhuma periculosidade social" (isso, claro, é uma previsão).
A questão não é concordar ou não com as decisões do STF: existem crimes que nos parecem pouco relevantes e pelos quais achamos injusto que um cidadão seja encarcerado -sobretudo, muitos acrescentarão, considerando o bando de criminosos bem mais relevantes que andam livres pelas nossas ruas. Isso sem contar a superlotação do sistema carcerário.
O que me interessa é que as 14 decisões do STF constituem uma espécie de marco. Imagino facilmente um juiz de primeira ou segunda instância ponderando alternativas mais morais do que propriamente jurídicas: "Se encarcero este homem, o que acontece com suas crianças? Ou então, se eu o encarcero, será que faço do crime seu destino, enquanto seu comportamento foi excepcional, ditado por circunstâncias extremas?". Há mesmo situações que a lei não pode contemplar e que pedem uma avaliação "humana", quase afetiva. Mas, visto que as decisões emanam do Supremo, é como se, desta vez, a preocupação moral alterasse ou substituísse a norma jurídica. Isso é uma novidade. Devemos festejar? A verdade é que não sei.
Os psicólogos conhecem os dilemas que Lawrence Kohlberg inventou, nos anos 70, para medir o desenvolvimento moral das pessoas. O primeiro deles podia ser resumido assim: "É errado roubar remédio se seu filho está doente e você não tem recurso algum?". Hoje, o STF parece responder que se trataria de um erro insignificante. Para Kohlberg, essa resposta tem uma qualidade moral superior àquela que diria que, necessidade ou não, bagatela ou não, roubar é proibido.
Agora, Kohlberg media a qualidade do pensamento moral, ou seja, a complexidade do foro íntimo das pessoas. Ele não pedia que, na hora de dar suas respostas, os sujeitos testados apreciassem a legalidade das condutas avaliadas - por uma razão simples: em nossa cultura, a esfera pública da legalidade é separada da esfera privada da moral.
Já faz alguns séculos que a ideia de justiça se desvinculou da ideia de legalidade: o que nos parece justo não coincide necessariamente com o que é legal. Podemos achar, sem contradição, que uma lei é injusta; e nosso tribunal interior é mais importante, para nós, do que o veredicto de uma corte. Essa maneira de pensar é um dos traços gloriosos da modernidade ocidental.
Na reportagem que citei, Britto declara que o STF recorreu a uma distinção entre o formal e o material: algo pode ser crime formal, mas não material (o concreto é mais importante do que a letra). A consequência vem a seguir: o ministro também declara que, no caso do crime de bagatela, foi afastada "a ilicitude do caso". Ou seja, a consideração moral concreta acabou com a ilegalidade abstrata do ato.
Muitos especialistas em segurança pública recearão as consequências dessa posição, pois vários estudos mostram que o crime se expande lá onde as simples infrações não são reprimidas: se é tolerado que a gente urine nos cantos, então haverá quem assaltará -como se a "generosidade" da lei comprovasse sua ausência ou seu sono. Mas, fora essa consideração, as decisões do STF revelam um impasse específico da modernidade. Uma sociedade regida pelo foro íntimo seria, provavelmente, mais justa do que uma sociedade governada pela letra da lei. Mas será que ela é possível? Será que somos capazes disso? Será que somos homens à altura dessa esperança?
Essa pergunta é, por sua vez, um dilema moral - ao qual, obviamente, não sei responder.

Valores positivos
A modernidade não é moralmente "decadente'; ela é rica em valores que merecem ser defendidos

Em 5 de maio, o jornal "The Guardian" deu uma notícia que, aqui no Brasil, passou desapercebida ou quase. O Home Office (equivalente ao Ministério da Justiça) do Reino Unido publicou uma lista de 16 pessoas que seriam barradas caso tentassem entrar no país. Oito são islamistas pregadores de ódio étnico e terrorismo -nenhuma surpresa. Mas eis que eles aparecem em companhia de:
* Stephen Donald Black, cidadão dos EUA, grande sacerdote do Ku Klux Klan, fundador de "Stormfront", um fórum on-line para quem defende a supremacia da raça branca;
* Eric Gliebe, cidadão dos EUA, neonazista;
* Mike Guzovsky, cidadão dos EUA e de Israel, grande admirador de Baruch Goldstein (o qual, em 1994, em Hebron, matou 29 muçulmanos que estavam rezando numa mesquita);
* Fred Waldron Phelps, pastor batista, e sua filha Shirlei, cidadãos dos EUA, pregadores de uma cruzada contra os homossexuais (para eles, a Aids, as guerras e as catástrofes naturais são punições divinas pela permissividade sexual de nossos tempos);
* Artur Ryno e Pavel Skachevsky, cidadãos russos, skinheads, conhecidos por filmarem ataques contra minorias étnicas (imigrantes, armênios etc.) e disponibilizar os filmes na internet para o "prazer" de seus acólitos (ambos atualmente na cadeia pelo assassinato de duas dezenas de pessoas);
* Michael Savage, cidadão dos EUA, radialista que passa seu tempo no ar fomentando raiva étnica, religiosa e política (Savage ficou na minha memória por defender a ideia de que autismo infantil é manha de criança que não levou todos os tabefes que merecia).

A própria ministra do Interior, Jacqui Smith, explicou a razão pela qual decidiu publicar a lista dos indesejáveis: "Se você não pode viver segundo as regras, os padrões e os valores que contam em nossa vida, nós o excluiremos de nosso país e, mais importante, tornaremos públicos os nomes dos que barramos".
Adoraria assistir a um debate entre Jacqui Smith e um juiz da Corte Suprema dos EUA; seria, no mínimo, esclarecedor.
Provavelmente, um juiz da Corte Suprema dos EUA, mesmo conservador, diria que não podemos nunca perseguir uma opinião ou uma fé. Eventualmente, podemos perseguir os atos criminosos que essa opinião estimula, mas não a opinião como tal, visto que a lei que nos governa garante a liberdade de pensar e de se expressar.
Tudo bem, mas a decisão de Jacqui Smith não é tanto jurídica quanto moral: a liberdade de pensar e de se expressar, bem antes de ser uma lei, é um valor positivo de nossa cultura, ou seja, um valor que devemos defender assim como defenderíamos nossa fé ou nossa tradição se vivêssemos numa sociedade tradicional ou religiosa.
Na hipotética posição do juiz, a modernidade ocidental poderia ser uma sociedade sem valores positivos; ela seria regida apenas por leis, que, no caso, permitem que cada um pregue o que quiser -inclusive que ele pregue contra as leis que governam nossa convivência. Na posição de Smith, contrariamente ao que afirmam os apóstolos de nossa "decadência moral", a modernidade é uma sociedade rica em valores positivos. Nela, o respeito por esses valores é condição básica para ser cidadão; e o desrespeito é a marca do inimigo -assim como, numa sociedade tradicional, é inimigo quem pensa e professa de maneira diferente da tribo.
Outra diferença entre as duas posições é que, no primeiro caso, é quase impossível reconhecer adversários; um mito de paz universal surge como corolário do princípio legal pelo qual toda diferença é permitida. Nessa posição, somos avessos a conflitos e, eventualmente, combatentes envergonhados: combater contra quem, se, por lei, todos podem ser "dos nossos"?
No segundo caso, é fácil responder a essa pergunta: trata-se de combater contra quem, de fato, não é "dos nossos", ou seja, contra quem é inimigo de nossos valores.
Como me situo? Pois é, muitos anos atrás, militei a favor da ideia de que os partidos com vocação totalitária devem ser proibidos numa democracia que eles têm o intento de abolir.
A lista de Jacqui Smith me tocou. Ela mostra que, para reconhecer valores que valem a pena defender, não é necessário se identificar com um grupo ou uma facção: nossa cultura basta e sobra.
Além disso, a leitura da lista me fez pensar em minha tia Rosalia, que sempre me dizia: "A inteligência humana tem limites; a estupidez não tem".

EDUCAÇÃO


É notório que, talvez por nunca ter frequentado uma universidade (mesmo depois de rico), o Presidente South Park pratica uma política educacional que confunde alhos com bugalhos. Ou, sendo mais preciso, confunde educação básica com educação acadêmica.


A educação básica (que no Brasil é dividida em 4 blocos, chamados creche, educação infantil, ensino fundamental e ensino médio) deveria dar-se dos 0 aos 18 anos (ou 20 anos, na minha opinião particular), ser provida pelo Estado com acesso universal e gratuito, manter alunos (e pais, quando viável) fortemente engajados no processo, e capacitar os alunos a:
1 - comunicarem-se, lerem e escreverem com fluência e clareza tanto na sua língua nativa como em línguas universais;
2 - fazerem análises lógicas, quantitativas e gráficas elementares;
3 - refletirem e discutirem com pluralidade e sem dogmatismos sobre temas abstratos intrínsecos às inquietações humanas (filosofia, psicologia, artes, ideologias, religiões);
4 - terem consciência de seus próprios corpos e cuidarem para manterem-nos sãos;
5 - compreenderem os princípios fundamentais da saúde humana;
6 - conviverem com familiaridade com aspectos da vida contemporânea, tais como computadores, trânsito e finanças;
7 - compreenderem aspectos gerais da sociedade em que vivem e das demais sociedades (com as quais sempre podem ter contato algum dia), incluindo suas histórias, culturas e leis;
8 - compreenderem os princípios fundamentais do funcionamento da natureza (com o cuidado para que não se percam em minúcias irrelevantes e excessivamente complexas);

A educação acadêmica é outra conversa, completamente distinta! Deve voltar-se para PRODUÇÃO (e compartilhamento) de conhecimento, e não mais para "alfabetização" (no sentido completo da palavra) de um povo. É assunto para a pasta da "ciência e tecnologia", e não mais para a "educação, esporte e cultura". No blablablá dos economistas, teria a ver com "inovação e crescimento", e não com "equidade e desenvolvimento". E, acima de tudo, não deveria jamais ser encarada como "passaporte para o mercado de trabalho". Academia é lugar para quem tem interesse e perfil para produzir ciência. Não precisa ser universal como deve ser a educação básica. (Na verdade, nem deve, dadas suas exigências de interesse - já por pessoas adultas - e perfil).

No Brasil, e suponho que na América Latrina em geral, criou-se ao longo das décadas (ou dos séculos) a cultura infeliz de transformar a educação acadêmica em "entrada para o mercado", o que a empurra para o Estado com caráter de universalidade e gratuidade e, assim, desvirtua tanto a própria educação acadêmica quanto a mais essencial responsabilidade do Estado (para com a educação de base). No governo do Presidente South Park, um dos acertos da política educacional tem sido a ampliação de cursos técnicos, o que alivia um pouco a cultura estapafúrdia que foi criada. Mas, pra contrabalançar, ele cria uma tal "Universidade para Todos", que parece ter o objetivo quixotesco de dar diplomas acadêmicos a uma população de 190 milhões de pessoas, sendo que 180 milhões delas não tiveram educação de base como deveriam (nem verão seus filhos terem, já que não há nem esboço de encaminhamento da revolução que a educação de base no Brasil requer).

sexta-feira, 10 de abril de 2009

FIEL: comunhão














10 de abril de 2009. Sexta-feira da Paixão. Nada mais coerente do que ir ver a estreia de FIEL no cinema (mais coerente ainda fazê-lo em Itaquera).

Cheguei ao cinema meia hora antes da primeira sessão e umas 20 pessoas já começavam a formar uma pequena fila na entrada. Fui à bilheteria e depois a uma lanchonete (era hora de almoço) e fiquei comendo um sanduíche enquanto observava a fila aumentar. Quando finalmente entrei na fila, já deviam ser umas 60 pessoas. Na hora para a qual estava marcada a sessão, já havia um cinegrafista e uma repórter da TV Cultura filmando e entrevistando pessoas na fila que, àquela altura, havia mais que dobrado. “Abertos os portões”, a entrada foi tranquila, mas parecia haver em todos um certo frisson contido em transformar o cinema na arquibancada do Pacaembu. No fundo da sala, um grupo ao qual fui integrar-me esboçava alguns cantos, mas timidamente. A Fiel só irrompeu quando alguém começou a puxar o Hino do Corinthians. Foi esquisito cantar o Hino sentado, mas, enfim, estávamos nos ambientando àquele “novo estádio”. Tudo registrado pelo cinegrafista da TV Cultura e por algumas câmeras de celulares.

Na primeira cena, uma sequência de passos silenciosos rumo ao Pacaembu já dizia muito. “Eu conheço essa calçada”, comentou alguém na plateia. Todos nós conhecemos, meu caro. Era o calçamento dos casarões que ficam abaixo do “ladeirão do cemitério”, o caminho do ritual compenetrado, dos passos silenciosos das dezenas de milhares de guerreiros que, descendo do metrô Clínicas, rumam a mais uma batalha. Pra mim, uma das cenas mais marcantes do filme. Cena que conta em um breve minuto muitas histórias. Histórias diferentes para cada espectador. Contadas no silêncio dos passos.

Como no roteiro comum a qualquer filme “não alternativo”, segue-se a “apresentação dos personagens”. Em depoimentos que passam por avós, pais, filhos e romances no estádio, em partidas históricas ou no cotidiano das casas, a imensa família Fiel vai sendo apresentada a quem não a conhece – certamente, um ou outro gato pingado nas salas de exibição do filme. Depoimentos e cenas se costuram: a moça que deixa a quimioterapia e vai ao estádio dar sequência ao tratamento, o senhor que se emociona ao lembrar partidas históricas junto ao pai já falecido, o executivo quarentão que se percebe feliz por estar no meio do “bando de loucos”, o sujeito que passa a vida em viagens internacionais mas sempre dá um jeito de estar no Pacaembu nos dias de jogos, a ansiedade angustiada do cara que só consegue comprar ingresso na hora do jogo (e obviamente só consegue vaga no setor laranja), os colecionadores de ingressos e suas respectivas coleções. Enredos corriqueiros para quem frequenta o Pacaembu, mas que costumam surpreender quem não nasce com a insígnia no peito esquerdo.

Passada a apresentação inicial dos personagens, o tom sério de Mano Menezes anuncia o início da “segunda parte” do filme: a saga que culminaria no 2 de dezembro de 2007. Lembranças pessoais vão sendo invocadas jogo a jogo nas partidas contra os bambis (com o gol memorável do Betão), Flamengo (e a derrota de virada com os gols do Roger), Atlético Paranaense (com o gol de empate do Finazzi no último minuto e de que me lembro particularmente como as duas horas mais angustiantes da minha vida porque foi quando eu vi o prenúncio), Goiás (e o pênalti defendido pelo Felipe), Vasco (quando o filme se esqueceu de mencionar o Timão completamente desfalcado) e finalmente o jogo contra o Grêmio no Olímpico (em que o maior destaque foi o árbitro do jogo que corria em paralelo, Goiás x Inter, fazendo o time do Goiás treinar cobranças de pênalti no meio da partida). Recordações pessoais vão sendo narradas na tela e se confundindo com as lembranças particulares de cada espectador. E os soluços na sala de cinema começam a despontar.

Apagados os refletores do Olímpico – e gritada a pequenez das celebrações país afora –, inicia-se a saga da redenção. Mais uma vez, o circunspecto Mano Menezes aparece, apontando a segunda partida entre Corinthians e Goiás pela Copa do Brasil (Timão 4x0 já no primeiro tempo, depois de ter perdido a primeira partida por 3x1 – e sem o filme mencionar o Felipe jogando uvas verdes para a torcida) como símbolo da consolidação da equipe para, em seguida, o filme saltar para “o dia da redenção”. Mais uma vez, histórias vão sendo elencadas sobre o 25 de outubro de 2008 e a chamada “tarde perfeita” no Pacaembu (em campo, no placar eletrônico e na arquibancada). Mais uma vez, as narrativas na tela se misturam às lembranças pessoais e os soluços na sala aumentam.

Acaba o filme e alguém na plateia comenta: “Puta que pariu, mano. Que filme é esse? Eu chorei o filme inteiro”. Todos nós, meu caro. Todos nós que sabemos o que é essa comunhão.

Aviso aos cinéfilos não-corintianos: Conforme esperado, o filme não é “uma obra-prima da sétima arte”. É um filme da Fiel, sobre a Fiel, para a Fiel. Essa era a proposta e esse foi o resultado. E é a Fiel quem agradece à diretora Andrea Pasquini e aos roteiristas Marcelo Rubens Paiva e Serginho Groisman por se juntarem aos tantos que transformaram paixão e dor em uma bela peça de arte.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

FIEL - o filme







Todos sabem que o Corinthians não é um time com uma torcida, mas uma torcida com um time. Nas situações normais da vida e em times comuns, o fracasso é órfão e a dificuldade é solitária: nos maus momentos, as pessoas somem. Não com o Corinthians. Quando o sofrimento atinge níveis que beiram o insuportável, quando todas as esperanças se frustram, quando a humilhação se desenha nítida, esse é o momento em que o corinthiano veste a camisa, enche o peito e avisa ao mundo: “Nunca vou te abandonar!”. Quando a coisa fica preta, fica branca também, porque a torcida alvinegra vai descer junto com o time ao inferno mais profundo e levá-lo de volta ao seu caminho de vitórias.

FIEL é um documentário longa-metragem feito por, com e para corinthianos. Por isso, não é um filme apenas sobre futebol, porque a fiel torcida corinthiana é uma família, é uma religião, é uma nação. Um filme inspirado e dedicado a ela só pode ser assim, um filme sobre amor, solidariedade, orgulho, raça e doação. Focado nos anos de 2007 e 2008, o filme acompanha o time e sua torcida em seu momento mais difícil, mas também de maior união. Com imagens e depoimentos inéditos de torcedores e jogadores, o filme mostrará que o Corinthians e sua torcida usam o seu presente para dar uma lição: Corinthians grande, sempre altaneiro. Os outros times que se salvem, porque o Corinthians vem aí.

FIEL: 10 de Abril, nos cinemas.

(do site oficial)

domingo, 8 de março de 2009

História do futebol (1)


O rei das línguas


Conta-se um rei britânico (se não me engano, Henrique VIII), sabidamente poliglota, foi questionado sobre o porquê de falar tantas línguas. A resposta:

- Uso inglês para falar com meus pais [pela objetividade], espanhol para falar com Deus [pela clemência], francês para falar com mulheres [pela sedução], italiano para falar com homens [pelo companheirismo] e alemão para falar com meu cavalo.

Línguas, gratidão, obrigação e criação


Acho que o grande barato de estudar línguas é descobrir como povos diferentes olham de formas diferentes para uma mesma situação. É daí que, enquanto espanhóis, italianos, ingleses e alemães apenas "agradecem" por uma gentileza ou um favor (gracias, grazie, thank you, Danke), portugueses colocam-se na condição de "obrigados a retribuir" (obrigado). Não faço ideia se o merci dos franceses remete à misericórdia do mercy inglês.

Lembro que a primeira vez que isso me chamou atenção foi quando soube que ingleses não dizem que cortaram seus cabelos, mas que "tiveram seus cabelos cortados". Gostei desse raciocínio linear. Perde em poesia mas ganha em objetividade e clareza, como é típico dos povos anglos. Por isso que o inglês é a melhor língua para a ciência.
Dia desses, chamou-me atenção falarmos em "criar filhos", enquanto ingleses "crescem seus filhos" (raise children). Achei interessante pensar no "criar". Para quem pensa em português, filhos então são obras, cujos artistas criadores são os pais! Até certo ponto acho que faz sentido. Só que são obras com vida própria, independente do olhar do público.

Derby

Que Corinthians x Palmeiras é o melhor duelo de futebol do mundo, eu já sei há muito tempo.

Mas parece que agora resolveram revelar isso aos gringos - e os gringos resolveram descobrir. O jogo de hoje será alvo das lentes da imprensa internacional por causa da presença do Gordo. Mas as diretorias dos dois clubes decidiram fazer ações de marketing para que o mundo descobrisse o que é um Corinthians x Palmeiras. Logomarca internacional para o clássico e troféu a ser disputado de agora em diante em todos os duelos das duas equipes fazem parte das ações.

E mesmo antes disso, meses atrás, a CNN já havia apresentado ao mundo seu ranking com
os 10 mais clássicos duelos interclubes do futebol mundial. A lista da CNN foi a seguinte:
1º) Celtic x Rangers (Escócia)
2º) Roma x Lazio (Itália)
3º) Boca Juniors x River Plate (Argentina)
4º) Al Ahly x Zamalek (Egito)
5º) Galatasaray x Fenerbahce (Turquia)
6º) Olympiakos x Panathinaikos (Grécia)
7º) Red Star Belgrado x Partizan Belgrado (Sérvia)
8º) Wydad x Raja (Marrocos)
9º) Corinthians x Palmeiras (Brasil)
10º) Peñarol x Nacional (Uruguai)

Sobre a presença do Gordo no Timão e as expectativas com relação a ele, fico com o comentário do Paulo Vinícius Coelho na Folha de hoje (o link só funciona para assinantes mas o texto está aí embaixo):


O melhor amigo de Ronaldo

HÁ DOIS Corinthians diferentes e contraditórios neste início de 2009. Em um deles, você pode confiar. É o Corinthians do trabalho, de Mano Menezes, que não perde há 32 partidas com o time titular. Nesse período, passou 20 jogos invicto e caiu apenas contra o América-RN, na última rodada da Série B, num dia em que o treinador escalou os reservas. Neste ano, já são 12 partidas sem derrota.

O outro é o Corinthians do marketing. É o time de Ronaldo, de Andres Sanchez, da expectativa do patrocínio de R$ 30 milhões, das baladas. Nos próximos meses, Ronaldo conviverá com o time do trabalho e o dos mimos. Não que isso seja novidade para ele. Relembre a carreira do Fenômeno, desde sua chegada à Europa. Lembra do tempo em que se dizia que Ronaldo não se dava bem com o técnico Hector Cúper, da Inter, porque era argentino e não gostava de brasileiros? Mas Marcello Lippi era italiano, quando cobrou que Ronaldo voltasse das férias no mesmo dia de seus colegas, em 1999. Do Brasil, o centroavante avisou que se atrasaria quatro dias.
Ronaldo conviveu com dois tipos de treinador. Aqueles do estilo Gigi Simoni, sem currículo, nem autoridade. Ou aqueles como Marcello Lippi, que só pediam a Ronaldo que mostrasse seu talento, dentro de campo, e fora dele cumprisse suas obrigações como qualquer outro. Com Cúper e Lippi, Ronaldo viveu momentos de estresse.
No Corinthians, a opinião geral é que Ronaldo é de incrível facilidade no trato. Frases assim sobre o Fenômeno vão do assessor de imprensa, Guilherme Prado, ao técnico Mano Menezes. O treinador foi sempre o mais lúcido no processo de recuperação. Foi ele quem anunciou que Ronaldo entraria na equipe aos poucos e que estrearia no banco de reservas. Foi Mano também quem evitou a ansiedade da estreia logo no clássico contra o Palmeiras.
Se o marketing pedia o debute no Dérbi, o bom senso exigia pensar diferente. Na entrevista exclusiva a Mauro Naves, da TV Globo, após a partida de Itumbiara, Ronaldo comentou como é ruim entrar no decorrer dos jogos, como prefere iniciar as partidas. O bom senso diz que é melhor esperar mais um pouco. O marketing, usado com bom senso, também exigiria uma entrevista coletiva depois da estreia, com o imenso painel usado nessas ocasiões estampando as marcas dos patrocinadores do Corinthians, às costas do Fenômeno. Ronaldo preferiu mostrar ao Brasil apenas a parede vazia do hotel onde estava hospedado. O Corinthians do mimo, digo, do marketing, nem reclamou.
É possível que Ronaldo siga uma longa lua-de-mel com o Corinthians do marketing, do mimo, das baladas. Mas no momento atual da carreira, sem jogar uma partida completa há 14 meses, sem disputar seis jogos seguidos há cinco anos, Ronaldo precisa do Corinthians do trabalho.
Há dez dias, na mesma Presidente Prudente onde deve jogar um pedaço do jogo contra o Palmeiras hoje, Ronaldo chegou ao hotel às 5h. Desejava um pouco mais do que dormir as horas que o separavam da fisioterapia. Às 5h, o Corinthians do trabalho lhe disse NÃO. Talvez só Marcello Lippi e Hector Cúper tenham sido tão amigos de Ronaldo quanto o Corinthians do trabalho.