sexta-feira, 10 de abril de 2009

FIEL: comunhão














10 de abril de 2009. Sexta-feira da Paixão. Nada mais coerente do que ir ver a estreia de FIEL no cinema (mais coerente ainda fazê-lo em Itaquera).

Cheguei ao cinema meia hora antes da primeira sessão e umas 20 pessoas já começavam a formar uma pequena fila na entrada. Fui à bilheteria e depois a uma lanchonete (era hora de almoço) e fiquei comendo um sanduíche enquanto observava a fila aumentar. Quando finalmente entrei na fila, já deviam ser umas 60 pessoas. Na hora para a qual estava marcada a sessão, já havia um cinegrafista e uma repórter da TV Cultura filmando e entrevistando pessoas na fila que, àquela altura, havia mais que dobrado. “Abertos os portões”, a entrada foi tranquila, mas parecia haver em todos um certo frisson contido em transformar o cinema na arquibancada do Pacaembu. No fundo da sala, um grupo ao qual fui integrar-me esboçava alguns cantos, mas timidamente. A Fiel só irrompeu quando alguém começou a puxar o Hino do Corinthians. Foi esquisito cantar o Hino sentado, mas, enfim, estávamos nos ambientando àquele “novo estádio”. Tudo registrado pelo cinegrafista da TV Cultura e por algumas câmeras de celulares.

Na primeira cena, uma sequência de passos silenciosos rumo ao Pacaembu já dizia muito. “Eu conheço essa calçada”, comentou alguém na plateia. Todos nós conhecemos, meu caro. Era o calçamento dos casarões que ficam abaixo do “ladeirão do cemitério”, o caminho do ritual compenetrado, dos passos silenciosos das dezenas de milhares de guerreiros que, descendo do metrô Clínicas, rumam a mais uma batalha. Pra mim, uma das cenas mais marcantes do filme. Cena que conta em um breve minuto muitas histórias. Histórias diferentes para cada espectador. Contadas no silêncio dos passos.

Como no roteiro comum a qualquer filme “não alternativo”, segue-se a “apresentação dos personagens”. Em depoimentos que passam por avós, pais, filhos e romances no estádio, em partidas históricas ou no cotidiano das casas, a imensa família Fiel vai sendo apresentada a quem não a conhece – certamente, um ou outro gato pingado nas salas de exibição do filme. Depoimentos e cenas se costuram: a moça que deixa a quimioterapia e vai ao estádio dar sequência ao tratamento, o senhor que se emociona ao lembrar partidas históricas junto ao pai já falecido, o executivo quarentão que se percebe feliz por estar no meio do “bando de loucos”, o sujeito que passa a vida em viagens internacionais mas sempre dá um jeito de estar no Pacaembu nos dias de jogos, a ansiedade angustiada do cara que só consegue comprar ingresso na hora do jogo (e obviamente só consegue vaga no setor laranja), os colecionadores de ingressos e suas respectivas coleções. Enredos corriqueiros para quem frequenta o Pacaembu, mas que costumam surpreender quem não nasce com a insígnia no peito esquerdo.

Passada a apresentação inicial dos personagens, o tom sério de Mano Menezes anuncia o início da “segunda parte” do filme: a saga que culminaria no 2 de dezembro de 2007. Lembranças pessoais vão sendo invocadas jogo a jogo nas partidas contra os bambis (com o gol memorável do Betão), Flamengo (e a derrota de virada com os gols do Roger), Atlético Paranaense (com o gol de empate do Finazzi no último minuto e de que me lembro particularmente como as duas horas mais angustiantes da minha vida porque foi quando eu vi o prenúncio), Goiás (e o pênalti defendido pelo Felipe), Vasco (quando o filme se esqueceu de mencionar o Timão completamente desfalcado) e finalmente o jogo contra o Grêmio no Olímpico (em que o maior destaque foi o árbitro do jogo que corria em paralelo, Goiás x Inter, fazendo o time do Goiás treinar cobranças de pênalti no meio da partida). Recordações pessoais vão sendo narradas na tela e se confundindo com as lembranças particulares de cada espectador. E os soluços na sala de cinema começam a despontar.

Apagados os refletores do Olímpico – e gritada a pequenez das celebrações país afora –, inicia-se a saga da redenção. Mais uma vez, o circunspecto Mano Menezes aparece, apontando a segunda partida entre Corinthians e Goiás pela Copa do Brasil (Timão 4x0 já no primeiro tempo, depois de ter perdido a primeira partida por 3x1 – e sem o filme mencionar o Felipe jogando uvas verdes para a torcida) como símbolo da consolidação da equipe para, em seguida, o filme saltar para “o dia da redenção”. Mais uma vez, histórias vão sendo elencadas sobre o 25 de outubro de 2008 e a chamada “tarde perfeita” no Pacaembu (em campo, no placar eletrônico e na arquibancada). Mais uma vez, as narrativas na tela se misturam às lembranças pessoais e os soluços na sala aumentam.

Acaba o filme e alguém na plateia comenta: “Puta que pariu, mano. Que filme é esse? Eu chorei o filme inteiro”. Todos nós, meu caro. Todos nós que sabemos o que é essa comunhão.

Aviso aos cinéfilos não-corintianos: Conforme esperado, o filme não é “uma obra-prima da sétima arte”. É um filme da Fiel, sobre a Fiel, para a Fiel. Essa era a proposta e esse foi o resultado. E é a Fiel quem agradece à diretora Andrea Pasquini e aos roteiristas Marcelo Rubens Paiva e Serginho Groisman por se juntarem aos tantos que transformaram paixão e dor em uma bela peça de arte.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

FIEL - o filme







Todos sabem que o Corinthians não é um time com uma torcida, mas uma torcida com um time. Nas situações normais da vida e em times comuns, o fracasso é órfão e a dificuldade é solitária: nos maus momentos, as pessoas somem. Não com o Corinthians. Quando o sofrimento atinge níveis que beiram o insuportável, quando todas as esperanças se frustram, quando a humilhação se desenha nítida, esse é o momento em que o corinthiano veste a camisa, enche o peito e avisa ao mundo: “Nunca vou te abandonar!”. Quando a coisa fica preta, fica branca também, porque a torcida alvinegra vai descer junto com o time ao inferno mais profundo e levá-lo de volta ao seu caminho de vitórias.

FIEL é um documentário longa-metragem feito por, com e para corinthianos. Por isso, não é um filme apenas sobre futebol, porque a fiel torcida corinthiana é uma família, é uma religião, é uma nação. Um filme inspirado e dedicado a ela só pode ser assim, um filme sobre amor, solidariedade, orgulho, raça e doação. Focado nos anos de 2007 e 2008, o filme acompanha o time e sua torcida em seu momento mais difícil, mas também de maior união. Com imagens e depoimentos inéditos de torcedores e jogadores, o filme mostrará que o Corinthians e sua torcida usam o seu presente para dar uma lição: Corinthians grande, sempre altaneiro. Os outros times que se salvem, porque o Corinthians vem aí.

FIEL: 10 de Abril, nos cinemas.

(do site oficial)