domingo, 8 de março de 2009

História do futebol (1)


O rei das línguas


Conta-se um rei britânico (se não me engano, Henrique VIII), sabidamente poliglota, foi questionado sobre o porquê de falar tantas línguas. A resposta:

- Uso inglês para falar com meus pais [pela objetividade], espanhol para falar com Deus [pela clemência], francês para falar com mulheres [pela sedução], italiano para falar com homens [pelo companheirismo] e alemão para falar com meu cavalo.

Línguas, gratidão, obrigação e criação


Acho que o grande barato de estudar línguas é descobrir como povos diferentes olham de formas diferentes para uma mesma situação. É daí que, enquanto espanhóis, italianos, ingleses e alemães apenas "agradecem" por uma gentileza ou um favor (gracias, grazie, thank you, Danke), portugueses colocam-se na condição de "obrigados a retribuir" (obrigado). Não faço ideia se o merci dos franceses remete à misericórdia do mercy inglês.

Lembro que a primeira vez que isso me chamou atenção foi quando soube que ingleses não dizem que cortaram seus cabelos, mas que "tiveram seus cabelos cortados". Gostei desse raciocínio linear. Perde em poesia mas ganha em objetividade e clareza, como é típico dos povos anglos. Por isso que o inglês é a melhor língua para a ciência.
Dia desses, chamou-me atenção falarmos em "criar filhos", enquanto ingleses "crescem seus filhos" (raise children). Achei interessante pensar no "criar". Para quem pensa em português, filhos então são obras, cujos artistas criadores são os pais! Até certo ponto acho que faz sentido. Só que são obras com vida própria, independente do olhar do público.

Derby

Que Corinthians x Palmeiras é o melhor duelo de futebol do mundo, eu já sei há muito tempo.

Mas parece que agora resolveram revelar isso aos gringos - e os gringos resolveram descobrir. O jogo de hoje será alvo das lentes da imprensa internacional por causa da presença do Gordo. Mas as diretorias dos dois clubes decidiram fazer ações de marketing para que o mundo descobrisse o que é um Corinthians x Palmeiras. Logomarca internacional para o clássico e troféu a ser disputado de agora em diante em todos os duelos das duas equipes fazem parte das ações.

E mesmo antes disso, meses atrás, a CNN já havia apresentado ao mundo seu ranking com
os 10 mais clássicos duelos interclubes do futebol mundial. A lista da CNN foi a seguinte:
1º) Celtic x Rangers (Escócia)
2º) Roma x Lazio (Itália)
3º) Boca Juniors x River Plate (Argentina)
4º) Al Ahly x Zamalek (Egito)
5º) Galatasaray x Fenerbahce (Turquia)
6º) Olympiakos x Panathinaikos (Grécia)
7º) Red Star Belgrado x Partizan Belgrado (Sérvia)
8º) Wydad x Raja (Marrocos)
9º) Corinthians x Palmeiras (Brasil)
10º) Peñarol x Nacional (Uruguai)

Sobre a presença do Gordo no Timão e as expectativas com relação a ele, fico com o comentário do Paulo Vinícius Coelho na Folha de hoje (o link só funciona para assinantes mas o texto está aí embaixo):


O melhor amigo de Ronaldo

HÁ DOIS Corinthians diferentes e contraditórios neste início de 2009. Em um deles, você pode confiar. É o Corinthians do trabalho, de Mano Menezes, que não perde há 32 partidas com o time titular. Nesse período, passou 20 jogos invicto e caiu apenas contra o América-RN, na última rodada da Série B, num dia em que o treinador escalou os reservas. Neste ano, já são 12 partidas sem derrota.

O outro é o Corinthians do marketing. É o time de Ronaldo, de Andres Sanchez, da expectativa do patrocínio de R$ 30 milhões, das baladas. Nos próximos meses, Ronaldo conviverá com o time do trabalho e o dos mimos. Não que isso seja novidade para ele. Relembre a carreira do Fenômeno, desde sua chegada à Europa. Lembra do tempo em que se dizia que Ronaldo não se dava bem com o técnico Hector Cúper, da Inter, porque era argentino e não gostava de brasileiros? Mas Marcello Lippi era italiano, quando cobrou que Ronaldo voltasse das férias no mesmo dia de seus colegas, em 1999. Do Brasil, o centroavante avisou que se atrasaria quatro dias.
Ronaldo conviveu com dois tipos de treinador. Aqueles do estilo Gigi Simoni, sem currículo, nem autoridade. Ou aqueles como Marcello Lippi, que só pediam a Ronaldo que mostrasse seu talento, dentro de campo, e fora dele cumprisse suas obrigações como qualquer outro. Com Cúper e Lippi, Ronaldo viveu momentos de estresse.
No Corinthians, a opinião geral é que Ronaldo é de incrível facilidade no trato. Frases assim sobre o Fenômeno vão do assessor de imprensa, Guilherme Prado, ao técnico Mano Menezes. O treinador foi sempre o mais lúcido no processo de recuperação. Foi ele quem anunciou que Ronaldo entraria na equipe aos poucos e que estrearia no banco de reservas. Foi Mano também quem evitou a ansiedade da estreia logo no clássico contra o Palmeiras.
Se o marketing pedia o debute no Dérbi, o bom senso exigia pensar diferente. Na entrevista exclusiva a Mauro Naves, da TV Globo, após a partida de Itumbiara, Ronaldo comentou como é ruim entrar no decorrer dos jogos, como prefere iniciar as partidas. O bom senso diz que é melhor esperar mais um pouco. O marketing, usado com bom senso, também exigiria uma entrevista coletiva depois da estreia, com o imenso painel usado nessas ocasiões estampando as marcas dos patrocinadores do Corinthians, às costas do Fenômeno. Ronaldo preferiu mostrar ao Brasil apenas a parede vazia do hotel onde estava hospedado. O Corinthians do mimo, digo, do marketing, nem reclamou.
É possível que Ronaldo siga uma longa lua-de-mel com o Corinthians do marketing, do mimo, das baladas. Mas no momento atual da carreira, sem jogar uma partida completa há 14 meses, sem disputar seis jogos seguidos há cinco anos, Ronaldo precisa do Corinthians do trabalho.
Há dez dias, na mesma Presidente Prudente onde deve jogar um pedaço do jogo contra o Palmeiras hoje, Ronaldo chegou ao hotel às 5h. Desejava um pouco mais do que dormir as horas que o separavam da fisioterapia. Às 5h, o Corinthians do trabalho lhe disse NÃO. Talvez só Marcello Lippi e Hector Cúper tenham sido tão amigos de Ronaldo quanto o Corinthians do trabalho.