domingo, 25 de janeiro de 2009

Keynesianos...


Um presente para Sampa


25 de janeiro de 2009. Sampa City completando 455 anos.
E tem jeito mais festivo de celebrar do que numa manhã de Pacaembu, com 35 mil fiéis, Final da Copinha e CORINTHIANS fazendo festa?

Timãozinho 2x1 Atlético-PR

Com direito a um camisa 7 chamado Marcelinho e patrocínio da Suvinil na camisa, o Timãozinho disputa sua 14a Final* e ergue sua 7a taça na História do torneio.















* Quem sabe o que é uma Final de torneio, sabe. Quem não sabe, não é corinthiano.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Meu fliperama preferido


Era 20 de janeiro de 1995, o dia mais transformador da minha vida (até ali, pelo menos). Era então um filho único, com 16 anos de idade, crescido em meio a uma cultura provinciana. E estava sozinho embarcando em um avião rumo a uma cidade desconhecida, sobre a qual o pocuo que sabia era ser ela uma megalópole fomentadora de sonhos e devoradora de almas. Rumava para Sampa City, a estudos - na verdade, voava pra lá para, na manhã seguinte, seguir para São José dos Campos, 90km para o interior do Estado.

Um primo médico e sua noiva, recém-graduados, viviam lá fazia 1 ano, na árdua vida de residentes. Ficaram de me buscar no aeroporto e me dar abrigo na primeira noite. E assim fizeram...

Enquanto me conduzia do aeroporto de Guarulhos até o pequeno apartamento em Moema, pela Avenida 23 de Maio, meu primo perguntou:

- Então? Qual a primeira impressão?

- Parece um fliperama!

Ele riu e completou:

- É! E tu estás dentro do fliperama!

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Alguma coisa acontece no meu coração



Sampa
por Caetano Veloso

Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas

Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João

Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes

E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vende outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva

Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
Mais possível novo quilombo de Zumbi
E os novos baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa


Bush Bye Bye Party


Evento mundial: festa de despedida organizada simultaneamente em várias cidades do mundo (até agora, 818). Informações?
Clique aqui. Obs.: Só é permitida a entrada com sapatos!

Ronaldo quase em forma


O atacante está quase em forma para sua estreia pelo Timão!!! E não se intimidou nem mesmo em ser fotografado exibindo o pânceps sarado.



domingo, 11 de janeiro de 2009

A atual crise econômica e seus caminhos


Em meio à montanha de coisas que têm sido escritas recentemente sobre a atual crise econômica, a análise de que mais gostei foi de Jeffry Frieden (graduação e PhD em economia em Columbia, ex-professor na UCLA e atual professor em Harvard). Ele usa um interessante paralelo com crises vistas anteriormente na América Latrina para segmentar o enfrentamento da crise em três etapas: estabilização (expansão fiscal e monetária para conter a espiral recessiva), ajuste (retração fiscal e monetária num segundo momento, para re-equilibrar as contas) e reforma (regulamentação do sistema financeiro com objetivo de evitar repetição do problema no futuro).

Os Estados Unidos em seus dias de América Latina
por Jeffry Frieden

A crise financeira americana de 2008 deve parecer familiar aos latino-americanos, uma vez que é muito similar àquelas causadas por dívidas que há anos flagelam os países da América Latina. Desde 2000, os Estados Unidos tomaram emprestados de outras nações 5 trilhões de dólares. A dívida externa financiou uma grande expansão econômica, e então um boom, e então uma bolha, em particular nos setores financeiro e imobiliário. A bolha agora estourou e a economia se encontra em uma espiral descendente.
Embora haja diferenças entre as crises de dívida americana e latino-americana, as semelhanças são esmagadoras. Para começar, a iniciativa partiu do governo, que contraiu empréstimos internacionais pesados para financiar grandes déficits. O setor privado seguiu o exemplo, usando fundos estrangeiros para expandir o consumo, especialmente no mercado imobiliário. Operações financeiras especulativas alimentaram e ampliaram o impacto dos empréstimos estrangeiros. Por quase uma década, o país viveu além de seus meios: consumiu mais do que produziu, investiu mais do que poupou, e o governo gastou mais do que arrecadou.
O rescaldo inevitável de uma crise financeira também é bem conhecido dos latino-americanos: estabilização, ajuste e reforma. Estamos agora na fase de estabilização, em que a principal tarefa é limitar os danos imediatos e impedir um colapso econômico mais extenso. Esta fase salienta uma grande diferença entre a atual crise americana e as crises latino-americanas anteriores: a americana não levou a um cessamento súbito da disposição estrangeira em emprestar ao governo americano. Isso significa que o governo pode se valer do gasto agressivo, mesmo em situação de déficit, para tentar estimular a economia e tornar o golpe menos doloroso. Isso é uma ótima notícia, tanto para os americanos como para o mundo. Se o governo dos Estados Unidos se visse impedido de contrair empréstimos, a recessão sem dúvida seria muito mais profunda, e seu impacto sobre o restante do mundo, sem dúvida, muito mais sério. Entretanto, é quase certo que haverá uma recessão grave nos Estados Unidos, e que levará pelo menos dois anos até que a economia americana volte a crescer.
Mesmo depois de restaurado o crescimento econômico, porém, os Estados Unidos terão de enfrentar os desafios do ajuste de médio prazo: havia anos a situação econômica do país já era insustentável. Todos os anos, desde 2001, os Estados Unidos tomam emprestado entre meio trilhão e 1 trilhão de dólares. Esse dinheiro é dirigido ao financiamento dos déficits maciços do governo, assim como dos imensos déficits da balança comercial e financeira do país para com o restante do mundo. Isso não pode perdurar. Assim que a crise mais imediata esteja contida, o governo terá de reduzir seu déficit orçamentário, e o país terá de passar a consumir menos e poupar mais, importando menos e exportando mais. Novamente, isso deve soar familiar aos latino-americanos, que já atravessaram essas experiências. Elas nunca são agradáveis. Nos Estados Unidos, o processo exigirá que se aumentem os impostos e se reduza o gasto do governo, forçando uma redução dos salários para aumentar as exportações, e elevando as taxas de juros para estimular a poupança. No geral, o resultado será uma redução dramática no padrão de vida de muitos americanos. Mas o ajuste é necessário para que se restaure o equilíbrio macroeconômico.
O ajuste macroeconômico não constituirá a etapa final do rescaldo desta crise, pois as instituições econômicas do país necessitam de reformas mais fundamentais. Em primeiro lugar está a demanda por uma regulação mais abrangente e eficaz dos mercados financeiros. Até que esta crise termine de fato, os contribuintes americanos podem ter de despender algo como 2 ou 3 trilhões de dólares para socorrer o sistema financeiro do país. Os americanos estão inflexíveis na convicção de que essa experiência não pode vir a se repetir, e de que a ausência de uma supervisão regulatória foi em grande parte responsável pelo desastre. Então o Congresso, o presidente e os reguladores terão de elaborar uma nova estrutura regulatória – provavelmente em conjunto com os governos de outras nações – para enfrentar as novas realidades financeiras.
Nenhum desses estágios será fácil. Somados, eles implicam uma guinada dramática em relação às políticas dos anos Bush. Haverá mais envolvimento do governo na economia, e mais supervisão pública dos mercados financeiros. Haverá também impostos mais altos e consumo reduzido, enquanto o pesadelo fiscal dos últimos oito anos for gradualmente desfeito.
Embora os desafios econômicos no caminho dos Estados Unidos sejam sérios, os desafios políticos talvez sejam ainda mais temerários. A crise certamente inflamará paixões políticas poderosas. Mesmo antes dela, havia um grande ressentimento em torno do abismo crescente entre ricos e pobres nos Estados Unidos; a maior parte das benesses da expansão econômica dos últimos dez anos foi colhida pelos 10% mais ricos da população, ao passo que os americanos médios não experimentaram grandes melhoras em suas condições.
Agora se pede aos americanos que se sacrifiquem para remediar os excessos de seu sistema financeiro. Os americanos ricos foram os principais beneficiários das políticas econômicas recentes. Quando essas políticas falharam, foi aos americanos pobres e de classe média que se pediu que socorressem a economia e amparassem aqueles que conduziram o país à sua presente crise.
Seja esse ponto de vista totalmente justificado ou não, o fato é que muitos americanos compartilham dele. Os americanos estão indignados, e o novo governo terá de dar respostas a essa indignação ao mesmo tempo em que trabalha para recuperar a confiança dos investidores domésticos e estrangeiros nos Estados Unidos. Essa será uma missão extraordinariamente difícil. O novo governo enfrenta a tarefa de pôr a economia americana, assim como o sistema político americano, no caminho de uma recuperação saudável. O presidente eleito, Obama, conta com uma grande reserva de boa vontade, em casa e fora dela, à qual recorrer; e precisará dela toda para que ele e seu governo possam renovar a política econômica americana.


O texto foi publicado na
edição de 31 de dezembro de 2008 da revista Veja, em meio a outras análises bem mais simplórias e repetitivas sobre a crise.

Pesquisa científica: vamos sair?


Pesquisa mapeou a reação de cérebros masculinos e femininos quando estimulados pela pergunta: "Vamos sair?". O resultado está ilustrado a seguir.


Terapia do amor


Uma mulher chegou em casa e disse para o marido:
- Zé, lembra das enxaquecas que eu costumava ter toda vez que nós íamos fazer amor? Estou curada.
- Não tem mais dor de cabeça?!?! - O marido perguntou espantado.
A esposa respondeu:
- Minha amiga Margarete me indicou um terapeuta que me hipnotizou. O médico me disse para ir para frente do espelho, me olhar bem no espelho e repetir para mim mesma. Não tenho mais dor de cabeça. Não tenho mais dor de cabeça. Não tenho mais dor de cabeça. Fiz isso e a dor de cabeça sumiu.
O marido respondeu: - Mas que maravilha!
Então a esposa falou para o marido.
- Nos últimos anos você não anda muito interessado em sexo. Por que você não vai ao terapeuta e tenta ver se ele te ajuda a ter interesse em sexo novamente?
O marido concordou, marcou uma consulta e alguns dias depois estava todo fogoso para uma noite de amor com a esposa... Então foi correndo para casa e entrou arrancando as roupas e arrastando a esposa para o quarto. Colocou a esposa na cama e disse para ela:
- Não se mova que eu já volto.
Ele foi ao banheiro e voltou logo depois, pulou na cama e fez amor de maneira muito apaixonada como nunca tinha feito com a esposa antes. A esposa falou:
- Zé, foi maravilhoso!
O marido disse novamente para a esposa.
- Não saia daí que eu volto logo.
Foi ao banheiro e a segunda vez foi muito melhor que a primeira.
A mulher sentou-se na cama, a cabeça girando em êxtase com aexperiência.
O marido disse outra vez:
- Não saia dai que eu volto logo.
Foi ao banheiro...
Desta vez a esposa foi silenciosamente atrás dele e quando chegou lá o marido olhava para o espelho e dizia:
- Não é minha esposa. Não é minha esposa. Não é minha esposa. Não é minha esposa. Não é minha esposa. Não é minha esposa. Não é minha esposa. Não é minha esposa. Não é minha esposa...
O velório do Zé será amanhã na capela 13 do Cemitério da Saudade!!!

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

COEXIST: arte contra a barbárie


Enquanto alguns milhões de seres humanos esforçam-se em conduzir suas vidas e as das demais pessoas ao século 22 - pensando e desenvolvendo tecnologia, ferramentas, métodos e ideias que gerem maior bem-estar a si próprio e às pessoas -, outros milhões de imbecis (pra mim, tão-simplesmente pessoas com forte deficiência educativa-cultural) abraçam-se ao século 12, querendo que a humanidade viva em meio a selvageria e miséria. Estou sim me referindo a árabes e israelenses que se lançam a um conflito de débeis-mentais (que vitimam inclusive crianças que ainda não tiveram tempo de escolher se também querem ser débeis-mentais ou não). Mas estou também me referindo a todos que apregoam o atraso, o retrocesso, a vida voltada para as cavernas e o troglodismo. Refiro-me às intolerâncias e aos que se opõem ou atrapalham o progresso da ciência e da arte.

Por sinal, num Ocidente em que o padrão cultural é terceirizar deus, buscá-lo como um ente externo, uma solução exterior para problemas encarados como extrínsecos (enquanto orientais, sejam eles budistas, hinduístas, taoístas ou confucionistas, o buscam em si próprios para problemas que são de si próprios), foi justamente a lastimável intolerância religiosa brotada dessa cultura a fonte de inspiração de uma das mais criativas e impactantes obras de arte pop dos tempos recentes: a bandeira do COEXIST. Feita originalmente com os signos das três grandes religiões ocidentais (a lua nova do islã, a estrela-de-davi do judaísmo e a cruz do cristianismo), ela inspirou outras variações bem interessantes, incorporando signos como do yoga ("união"), yin-yian, ciência, peace-and-love, e até uma versão mais alegre, colorida e carnavalesca. Algo que lembra o Brasil, que, nesse quesito, é um caso raro de bom exemplo ao mundo. Uma alegoria de como o sincretismo, a boa convivência, a tolerância com a diferença (que nada tem a ver com a tolerância à falta de ética), enfim, a coexistência pode ser um caminho interessante à alegria.





















sábado, 3 de janeiro de 2009

Casamento
















É! Olhando essa foto, fica fácil entender porque mulheres casam de branco e homens de preto!

Por que correr?

(por Fernanda Young, edição de setembro de 2006 da revista O2)

Corro porque sou kantiana. Não sigo os instintos da minha natureza, mas, sim, torno-me aquilo que não sou por uma razão maior. Procuro sempre dominar minhas deficiências, sendo a preguiça a maior delas. Poderia estar perfeitamente preguiçosa, mas não estou.

Outra ressalva, em minha alma, é que ela é triste. Só que não posso estar triste, pois devo, à minha obra, maior discernimento e, às minhas filhas, a força para criá-las fortes. Então também corro porque o contrário disso seria chorar, reclamar sem nada fazer e fumar mil cigarros. Dizem que quem tem a lua em Peixes, no zodíaco, como eu, tem tendência aos vícios. Corro, portanto, dessa queda para a autodestruição, pois não existe melhor química contra depressão do que a endorfina.

Correr, assim, é meu remédio. A minha meditação. Correndo sozinha, estou em minha melhor companhia. Faz mais de dez anos que sigo fiel a essa saudável rotina. Já adquiri até uma sesamoidite crônica, mas tenho um bom médico de pés, e palmilhas especiais.

Dizem, os invejosos, que correr envelhece. Bom, o tempo envelhece. E eu prefiro enfrentá-lo na minha melhor forma. Nunca tendo sido gostosa, correndo, jamais ficarei caída.

Há os que garantem que correr é um modismo urbano. Não sinto dessa maneira, ou jamais teria me tornado adepta. Sou avessa a coisas “in”. E, como também não sou dada a coletividades, sequer costumo correr em grupo. Mesmo nas corridas dos circuitos, das quais eventualmente participo, quando não estou sozinha, estou com um amigo silencioso.

Corro, acima de tudo, porque gosto. Às vezes, chego quase a chorar, tamanha a emoção. A sensação é de que estou deixando o que fui – meu passado é um resíduo que defendo, mas não carrego – para trás; e meu corpo agradece, renovado. Todos os músculos bem preparados para minha defesa, ou daqueles que de mim precisarem.

Sim, corro porque posso. Agradeço aos bons joelhos que possuo, que me sustentam sem reclamar. Claro, tenho métodos, tenho cuidados, tenho as minhas trilhas prediletas. Dou o melhor de mim nesse projeto, pois dependo dele para viver. Porque corro, não fumo mais. Porque corro, alimento-me melhor. Porque corro, não perco as sextas na biritagem – adoro correr aos sábados.

Concluindo, corro para não preencher perfis óbvios. Pois correr, no meu caso, é praticamente uma contradição. Porém insisto nisso, encarando como uma manifestação política, talvez mais significativa que votar. Corro, por causa disso, com toda a elegância e humildade. Aprendendo a cuidar bem desse corpo que Deus habita.

Por fim, eu corro porque acho bonito gente correndo, e quero que as minhas filhas vejam que todos somos capazes de mudar. E porque não suporto fazer regimes – é isso: corro porque adoro comer pizza à noite.



O mochileiro das galáxias em Boston


Novembro de 2006. Continuação do mochilão pelos EUA.
Após os dias iniciais em NYC, estava eu, pela manhã, na Penn Station (Madison Square Garden, perto da Times Square), aguardando o trem para Boston. A
Amtrak foi outra boa surpresa que tive nos EUA. As linhas que pertencem ao eixo Washington DC - Boston são um ótimo serviço de trem. Comprei os trechos todos pela internet, retirei os bilhetes muito rapidamente e quando embarquei no trem... uau! era excelente!!! Poltronas bem confortáveis e espaçosas, com mesinha e tomada para quem quiser usar laptop. Ótima primeira impressão! Chegando à Boston South Station, liguei para meu amigo e nosso inestimável CEO Newton Maia Pelarius Maximus, que me orientou a pegar um táxi para a Harvard Business School (HBS) e me recebeu no apartamento que divide com outros dois brasileiros do MBA. Interessantíssimo conhecer o HBS lifestyle. A turma de segundo ano (da qual o Newton fazia parte na época) estava em semana de entrevistas e portanto não tinham aulas. Praticamente todas as noites rolavam reuniões de brazucas e afins nos apartamentos, para ver filmes, tomar vinho e falar besteira. Numa dessas, apareceu um italiano figuraça com um provérbio que achei fantástico: "Dio maledica chi non lica la fica". Lição de vida!

Fiz um tradicional fooling around no campus e, no dia seguinte, um trolley tour pela cidade. Boston é separada de Cambridge pelo Charles River (foto ao lado, com vista de Boston a partir de Cambridge). Harvard e MIT (pra quem não conhece, duas das universidades mais cultuadas do mundo) ficam às margens do rio, sendo apenas a HBS fica no lado Boston. A presença das duas universidades faz com que Boston tenha uma das populações mais escolarizadas do mundo.

A primeira balada que rolou em Boston (depois do tradicional vinho no apartamento) foi no Rumor, que às quintas-feiras toca música latina. Em Boston existe um "curfew", um toque de recolher que faz as baladas fecharem às 2h da manhã. Com isso, rolam duas coisas curiosas. A primeira é que, como as pessoas chegam na balada às 11h e sabem que só ficarão até as 2h, rola uma certa tensão das pessoas em aproveitar logo a festa antes que acabe, uma urgência pela "maximização de utilidade"! A outra curiosidade é a hora do curfew. As luzes da boate acendem, a música para e os seguranças começam a empurrar todo mundo pra fora, gritando "acabou! acabou! o local vai fechar!". Mas foi divertido!

Finalmente, na manhã de sexta-feira, fui ver como era uma tão famosa aula na Harvard Business School. Fui como "visitor" de uma aluna brasileira do primeiro ano, que conheci no "wine happy hour" do dia anterior (ser "visitor" significa ser apresentado à turma e ao professor, mas ter que entrar mudo e sair calado, sob pena de repreensão ao seu "convidante"). Ela me sugeriu assitir à aula de "leads", em que seria discutido o caso da Nissan no Japão (empresa automotiva que estava à beira da bancarrota e foi reestruturada na gestão do brasileiro Carlos Gohsn). É uma aula bem diferente. Os alunos recebem dias antes uma descrição do caso e basicamente o professor vai conduzindo um debate entre os alunos na aula. Como a maior parte da nota é dada pela participação nesses debates, rola uma tensão de todo mundo querer falar. Assim, em uma sala com 90 alunos, a cada vez que um termina uma frase outros 20 levantam a mao querendo fazer algum comentário e o professor aponta um dos 20 para falar.

Na sequência, fui almoçar no refeitório da universidade e acabei decidindo assistir também à aula de financas, já que é a matéria que mais tem a ver comigo. Confesso que nesta eu fiquei agoniado em não poder participar. A aula era sobre CAPM e, sendo eu um trader grafista e pragmático que acha que CAPM é uma bullshitagem que só rende dinheiro pros caras que o inventaram, fiquei me coçando pra dar uns palpites. Mas consegui me comportar.

Bom... depois das aulas na HBS, soube da notícia de que um dos colegas do apartamento em que eu estava hospedado recebera oferta da McKinsey, que era o que ele mais almejava. Então fomos um grupo celebrar a notícia em uma steak house (muito parecida com o Outback) chamada Bugaboo’s Creek.


No sábado, fui conhecer Boston a pé. Já havia feito um tour pela cidade em um trolley (com o motorista dando informações sobre a cidade), mas nada como gastar uma solinha, conversar com os nativos e ir descobrindo as coisas pitorescas de uma cidade by yourself, vivenciando as "experiências antropológicas" (expressão do meu amigo Alejandro Tapias). Andei pelas redondezas do Common, um parque bem bonito no centro da cidade, por onde passa uma linha que eles chamam de Freedom Trail. Trata-se de uma linha vermelha pintada no chão, com cerca de 6 milhas de extensão e ao longo de 16 pontos turísticos da cidade. A linha representa o percurso seguido por Bostonians revoltosos em um movimento libertário do século 18.

Na sequência do Common, fica uma avenida chamada CommonWealth, que tem um meio-fio (ou ilha, como dizem os paulistas) largo e arborizado, parecendo a própria extensão do parque (foto ao lado). Os Bostonians se gabam de Winston Churchill ter dito uma vez que a CommonWealth era o lugar mais bonito que ele conhecera nos EUA. Minha opinião a respeito é: ele não deve ter conhecido o Central Park (nem o Grand Cannyon, nem Henderson Beach).

À noite, baladinha... O point da vez foi o Caprice, festinha de aniversário de uma galera da HBS. Como chegamos cedo, percebi que as baladas de Boston só ficam mesmo hardcore (quando começa a música latina e o dirty dancing) depois das 11h. É a partir daí que a galera começa a observar que só terá mais 3 horas para tomar os territórios e por isso a guerra se torna mais sangrenta, hahahaha! Muito divertido!

Domingão, último dia em Boston. Depois de tanta convivência com a galera de Harvard, não poderia deixar de ir prestigiar tambem os vizinhos – o MIT, Massachusetts Institute of Technology. No caminho até lá, parei no MIT Museum, que, apesar de pequeno, é um prato cheio para os entusiastas de tecnologia. Particularmente, curti muito as salas de holografia e de inteligência artificial do museu. Outra coisa curiosa é o visual dos prédios do MIT (fachada do prédio principal em foto abaixo). Enquanto em Harvard, os prédios têm aquela cara de tradição, com os tijolos bem vermelhos à mostra, no MIT rolam umas arquiteturas futuristas muito bacanas (como a dos quadrinhos coloridos nos dorms, na foto abaixo). Talvez a que mais chame atenção seja a do Artificial Inteligence Labs (outra foto abaixo), laboratório montado a partir de uma modesta doação de US$ 20 milhões de Bill Gates.





Internet nas nuvens


O debate que vem agitando o mundo dos bits & bytes ultimamente é a tal "computação nas nuvens" (cloud computing) que o Google anuncia que vai criar e, assim, põe a Microsoft e demais concorrentes de orelha em pé. Abaixo, uma coluna do Dvorak (bastante cética) traduzida para a revista Info de julho de 2008 sobre o tema.

Nuvem, pra quê?
Por que não vejo vantagem na celebrada cloud computing

John C. Dvorak

Parece que o navio de guerra chamado Microsoft vai mudar de rumo, mesmo que não seja necessário. Não se pode culpar a empresa por ser um tanto excêntrica. Afinal, durante os últimos 15 anos, disseram que ela não podia continuar fazendo o que faz. E o que ela faz é gerar bilhões e bilhões de dólares vendendo, principalmente, sistemas operacionais e uma suíte de programas pra escritório. Ambos poderiam facilmente ser substituídos. Claro, não surgiu nada capaz de ocupar o lugar do Windows e do Office, mas isso pode ocorrer a qualquer momento – é o que se diz. Pessoalmente, não acho que isso vá acontecer em nenhum momento, mas é possível.

De todo modo, a empresa está preocupada. Tudo o que se conhece como software está mudando e, no futuro, não vai rodar em computadores individuais, mas em uma “nuvem” conhecida como internet. Tudo vai para a internet. Ninguém sabe por que, mas é o que todos pensam. Nesse mundo da computação em nuvens, o dinheiro virá de assinaturas, taxas de uso eventual e anúncios. Há também o modelo on-demand, no qual você paga pelo que usa. Com isso, é óbvio, você sempre paga mais do que pagaria se tivesse comprado o software na caixa.

Quando penso no modelo on-demand. vejo um mundo onde você termina pagando por palavra ou por frase, ao usar um processador de texto “da nuvem”. Enxergo um cenário no qual aparece na tela uma mensagem assim: “Olá, notei que você está usando dois hifens. Você quer um travessão ou um hífen? Com o TextGrinder3000, os hifens são gratuitos e um travessão custa apenas 2 centavos. Você quer um travessão? Clique em Sim e os 2 centavos serão debitados em sua conta. Obrigado.” Esse tipo de coisa pode facilmente derivar para a chantagem. Eis a mensagem: “Nossos registros indicam que você não pagou por este serviço no mês passado. Sua conta foi temporariamente bloqueada. Se você deseja continuar usando o serviço, deve pagar uma taxa de readesão de 250 dólares, além dos débitos anteriores”.

Um problema com a computação em nuvem é a confiabilidade. Mesmo que você tenha a melhor conexão do mundo, é provável que seja obrigado a parar no meio de uma transação. Essas ausências da nuvem são difíceis de engolir. Coisas assim são suficientemente desagradáveis para fazer de toda a computação em nuvem uma idéia ruim. As pessoas querem respostas rápidas, e nada oferece respostas mais rápidas que uma boa máquina pessoal. Além da confiabilidade, há o problema da segurança. O que acontece quando o software na nuvem e hackeado? Quem é o responsável?

O fato de a Microsoft vir sendo empurrada para esse rumo com base em ameaças do Google talvez seja bom para a comunidade, porque vai manter a empresa ocupada em algo novo. Mas eu gostaria de que ela se ocupasse em corrigir e aperfeiçoar o Vista e outros produtos. Recentemente, uma conferência mostrou aos participantes como, num mundo idealizado, a computação em nuvem pode se tornar a próxima onda e todos irão dispor de banda larga sem limite. Mostrar, mostrou, mas isso não quer dizer que seja verdade. É possível que nunca alcancemos uma verdadeira conectividade universal.

E, se a alcançarmos, nunca será tão rápida, confiável ou segura como os micros isolados. Então, quais as razões de correr para a nuvem? Não vejo nenhuma.


sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Mais uma da língua portuguesa


Essa vem dos idos de 1992, tempo em que o Jô Soares tinha coluna na Veja. A edição era a de 30 de setembro e o bochicho da época era sobre um certo político ter-se referido a outro (não lembro quem eram os personagens) como um "bonifrate" - e ter, com isso, obrigado muita gente a consultar o pai-dos-burros (apelido carinhosamente estúpido que se dava ao dicionário quando meus pais eram adolescentes). O Jô se colocou no lugar do político e escreveu uma "carta aberta" sobre o alvoroço com a palavra usada.
Não sou admirador do Jô, mas esse texto particularmente considero memorável.

Será o bonifrate?
por Jô Soares

Quedei-me incrédulo ante a conspicuidade que prestaram ao termo "bonifrate", do qual me servi durante acepipes e pitéus deglutidos por ocasião da efeméride no habitáculo do dileto correligionário Onaireves. Por que tamanho pasmo? Acaso seria eu totalmente ignaro do vernáculo? Pensam os que clamam contra mim que só frequento valhacouto de palpalvos onde o xulo é primaz? Triste falácia. Sou douto palrador. Apenas, por vezes, oculto a plêaiade do meu verbo, plectro puro, por natural recato. Deleito-me ao refletir no semblante alvar dos malquistados, se me ouvissem brindar com mais vocábulos a malta platípode que repilo. Assombram-se com o bonifrate, que tal casquilho? Casquilho, sim, tem jetatura. Julga massar-me a chusma abostelada. Recolham-se! Da minha boca jamais ouvirão linguajar de bolicheiro.
Indago, o que mais fácil: praticar choldraboldra em passeatas crepitosas ou cultuar a última flor do lácio inculta e bela? A pureza da lingua é meu colunelo. Bonifrate, disse, e não burlei cânones de escribas. Faz parte de meu colóquio hodierno: como estarola, óbice e bolônio. Perde em estesia a farândula e seu ódio esgueia-se em fina gaivagem. Aos que imaginam que sou galucho, respondo com o galarim do estilo. Apraz-me a condição de turgimão do esdrúxulo. Não galreio com lapuzice a não ser quando quero igualar-me à luna. Pouco caso dos néscios que não percebem o néctar de expressões para mim prezáveis, pois uma pinhoca só não faz parreira. Pimpem, pimpem, aldrabões! Não me aceitam magniloquente, por receio do cortejo. É mister que pletora erudita de uns seja a carência mísera de outros. Nem sei por que abespinhar-me, quando no fundo não passam de biltres, bucéfalos e calaceiros. Reles bufarinheiros.
Quanto a mim, conduzo a veação com rédea firme. Não tremeluz a mão que exerce o oficio. Ao contrário do que dizem os que me asseteiam, sou imune à bajulação dos áulicos. Com o intuito de denegerir-me, os pérfilos enliçadores formam sodalícios, contubérnios, conventículos e corrilhos numa pandilha de telérrimos, salardanas. Aleivosias não desenastrarão alianças e com maranduvas não evitarão minha manutenência soberana. Pensam-na esmadrigada? Há! Há! Desato numa casquinada. Enfim, repito: contra mim, estão os sevandijas, bulhentos, sardanapalescos, pirangas, caramboleros, pecos e bolônios. O mais é dichote.
Basta de cherinóia.


Relendo o texto, vem-me à lembrança ainda outro episódio, este de 1997, quando fui, em excursão de alunos do ITA, assistir a gravações para o programa de entrevistas do Jô. Ocorreu que nesse dia uma das entrevistadas era uma linguista que estava lançando um novo dicionário da língua portuguesa. O Jô então "desafiou" a plateia a dizer o significado de algumas palavras que ele escolhera. Queria, como de costume, exibir-se e acusar de ignorantes as demais pessoas. Acabou escolhendo nosso sábio colega Gustavo Arruda e perguntou-lhe um significado:
- Sorumbático.
Ao que o Gustavo não titubeou:
- Macambúzio.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

A reforma ortográfica


1o de janeiro de 2009. Hoje entra em vigor a reforma ortográfica da língua portuguesa, destinada, teoricamente, a unificar as regras ortográficas entre países que têm tal língua como oficial (Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor Leste).

Basicamente, desaparece o trema (sem modificação de pronúncia das palavras), reincorporam-se as letras k, w e y (que, de fato, nunca desapareceram), simplificam-se as regras de uso do hífen (para antes de palavras iniciadas com h e de palavras que iniciem com a mesma vogal com que termina o prefixo que as antecede) e eliminam-se alguns acentos.

Eliminação de acentos me faz lembrar o inesquecível prof. Pedro Reis, que dizia que a língua portuguesa sem acentos poderia ficar bastante interessante ou extremamente medonha, dependendo do ponto de vista... Imagine só a frase abaixo SEM ACENTO:

Deus pediu que nos amássemos!

Dois mil INOVE







Pra posteridade: campanha publicitária do Bradesco