sábado, 3 de janeiro de 2009

Internet nas nuvens


O debate que vem agitando o mundo dos bits & bytes ultimamente é a tal "computação nas nuvens" (cloud computing) que o Google anuncia que vai criar e, assim, põe a Microsoft e demais concorrentes de orelha em pé. Abaixo, uma coluna do Dvorak (bastante cética) traduzida para a revista Info de julho de 2008 sobre o tema.

Nuvem, pra quê?
Por que não vejo vantagem na celebrada cloud computing

John C. Dvorak

Parece que o navio de guerra chamado Microsoft vai mudar de rumo, mesmo que não seja necessário. Não se pode culpar a empresa por ser um tanto excêntrica. Afinal, durante os últimos 15 anos, disseram que ela não podia continuar fazendo o que faz. E o que ela faz é gerar bilhões e bilhões de dólares vendendo, principalmente, sistemas operacionais e uma suíte de programas pra escritório. Ambos poderiam facilmente ser substituídos. Claro, não surgiu nada capaz de ocupar o lugar do Windows e do Office, mas isso pode ocorrer a qualquer momento – é o que se diz. Pessoalmente, não acho que isso vá acontecer em nenhum momento, mas é possível.

De todo modo, a empresa está preocupada. Tudo o que se conhece como software está mudando e, no futuro, não vai rodar em computadores individuais, mas em uma “nuvem” conhecida como internet. Tudo vai para a internet. Ninguém sabe por que, mas é o que todos pensam. Nesse mundo da computação em nuvens, o dinheiro virá de assinaturas, taxas de uso eventual e anúncios. Há também o modelo on-demand, no qual você paga pelo que usa. Com isso, é óbvio, você sempre paga mais do que pagaria se tivesse comprado o software na caixa.

Quando penso no modelo on-demand. vejo um mundo onde você termina pagando por palavra ou por frase, ao usar um processador de texto “da nuvem”. Enxergo um cenário no qual aparece na tela uma mensagem assim: “Olá, notei que você está usando dois hifens. Você quer um travessão ou um hífen? Com o TextGrinder3000, os hifens são gratuitos e um travessão custa apenas 2 centavos. Você quer um travessão? Clique em Sim e os 2 centavos serão debitados em sua conta. Obrigado.” Esse tipo de coisa pode facilmente derivar para a chantagem. Eis a mensagem: “Nossos registros indicam que você não pagou por este serviço no mês passado. Sua conta foi temporariamente bloqueada. Se você deseja continuar usando o serviço, deve pagar uma taxa de readesão de 250 dólares, além dos débitos anteriores”.

Um problema com a computação em nuvem é a confiabilidade. Mesmo que você tenha a melhor conexão do mundo, é provável que seja obrigado a parar no meio de uma transação. Essas ausências da nuvem são difíceis de engolir. Coisas assim são suficientemente desagradáveis para fazer de toda a computação em nuvem uma idéia ruim. As pessoas querem respostas rápidas, e nada oferece respostas mais rápidas que uma boa máquina pessoal. Além da confiabilidade, há o problema da segurança. O que acontece quando o software na nuvem e hackeado? Quem é o responsável?

O fato de a Microsoft vir sendo empurrada para esse rumo com base em ameaças do Google talvez seja bom para a comunidade, porque vai manter a empresa ocupada em algo novo. Mas eu gostaria de que ela se ocupasse em corrigir e aperfeiçoar o Vista e outros produtos. Recentemente, uma conferência mostrou aos participantes como, num mundo idealizado, a computação em nuvem pode se tornar a próxima onda e todos irão dispor de banda larga sem limite. Mostrar, mostrou, mas isso não quer dizer que seja verdade. É possível que nunca alcancemos uma verdadeira conectividade universal.

E, se a alcançarmos, nunca será tão rápida, confiável ou segura como os micros isolados. Então, quais as razões de correr para a nuvem? Não vejo nenhuma.


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