segunda-feira, 15 de junho de 2009

Metas de inflação e crescimento


Essa veio de um trabalho apresentado pelo prof dr Gilberto Libânio, PhD em economia e professor de macroeconomia na UFMG, e de um posterior almoço com ele...


No Brasil, passamos os últimos anos ouvindo reclamações sobre a estratofésrica taxa básica de juros (taxa Selic), sempre justificada pelo Banco Central como um mal necessário devido ao regime de metas de inflação, e o efeito nefasto dessa elevada taxa sobre o crescimento da economia do país. Em uma análise bastante interessante, o trabalho esmiuça um mecanismo de acordo com o qual um desaquecimento na economia acaba tendo como consequência em um país que adote metas de inflação (e que tenha endividamento) uma elevação na taxa básica de juros, ou seja, um resultado que agrava ainda mais o desaquecimento inicial. É o que economistas chamam de um mecanismo pró-cíclico.

O mecanismo é o seguinte:
1) o desaquecimento na economia gera queda na arrecadação tributária;
2) a queda na arrecadação aumenta a chance de o país não honrar suas dívidas (elevação do risco-país);
3) a elevação do risco-país faz investidores internacionais retirarem divisas (moeda estrangeira) do país, provocando, assim, um encarecimento da moeda estrangeira (desvalorização cambial da moeda local);
4) a desvalorização cambial pressiona a inflação (dependendo do quanto os preços dos produtos no mercado doméstico estiverem atrelados a importações ou mesmo a bens "exportáveis"), o que faz a autoridade monetária elevar a taxa de juros.

O remédio?
A primeira engrenagem que percebemos que pode ser invertida - consequentemente, invertendo o mecanismo - é o endividamento do país. Se a dívida com credores internacionais for menor ou até mesmo negativa (caso de um país credor, como o Brasil é hoje), o passo 2 do mecanismo se enfraquece ou nem mesmo se concretiza.
Outra possibilidade é uma atuação no passo 3 do mecanismo: controle de capitais. Se o fluxo de capital estrangeiro for sujeito a mais restrições legais, oscilações no risco-país podem ter seus efeitos sobre o câmbio mais amortecidos.

Curiosamente, escrevo esse post exatamente na semana em que a taxa básica de juros do Brasil foi reduzida para um dígito (apesar de continuar sendo uma das mais altas do mundo) e em um momento em que o país é credor externo. Ou seja, o mecanismo pró-cíclico descrito acima está desfeito e os macroeconomistas precisam procurar outro motivo para esbravejar contra o Banco Central. No almoço que tive depois com o Gilberto, ele arriscou seu palpite para as bravatas dos próximos anos: câmbio sobrevalorizado, com o enfraquecimento do dólar e a inundação promovida pelo Tesouro americano.

Penso que faz sentido!

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