domingo, 22 de fevereiro de 2009

Cinema 2008, Oscar 2009


Noite de Oscar e 2009 vem confirmar o que já é sabido por todos... que a festa no Kodak Theater se trata tão-somente de premiação política, em que o critério de menor relevância é a qualidade artística dos trabalhos.


Os dois grandes filmes do último ano foram praticamente alijados da cerimônia. O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight) concorre a 8 estatuetas, mas praticamente apenas em categorias ténicas (a exceção é a indicação de Heath Ledger para melhor ator coadjuvante), e Vicky Cristina Barcelona será mencionado apenas na categoria de melhor atriz coadjuvante, representado por Penélope Cruz.

A indicação - e a premiação - do "Coringa" Ledger não é mais do que obrigação da Academia. Não por homenagem póstuma, mas sim por tratar-se de uma atuação histórica, uma das maiores da história do cinema, pra figurar na memória pelas próximas gerações, lado a lado daquelas de Marlon Brando, Vivien Leigh ou James Dean. Mas, se a atuação de Ledger é algo para a história do cinema, o restante do filme é digno também de premiações mais nobres do que aquelas para as quais está indicado. É bem melhor filme, por exemplo, do que Slumdog Millionaire e O Curioso Caso de Benjamin Button.

Vicky Cristina Barcelona prima mais pelo ótimo jogo de cena entre os atores Javier Bardem, Rebeca Hall, Scarlett Johansen e Penélope Cruz, apoiado em roteiro e direção geniais (redudância quando se fala em Woody Allen), pela deliciosa trilha sonora e por ter nada menos que Barcelona como cenário. Bem mais do que simplesmente a atuação de Penélope.



Dentre os filmes mais badalados para a festa, vi até agora apenas O Curioso Caso de Benjamin Button e Slumdog Millionaire. O primeiro é digno de todos os prêmios técnicos possíveis e imagináveis, mas não justifica mais do que isso. O desafio de produzir maquiagens e efeitos visuais que fizessem um bebê ter a cara enrugada e um velho rejuvenescer foi vencido com louvor. Mas o enredo do filme se perde em vários momentos e as belas poesias do relógio que gira ao contrário e do balé de Cate Blanchet no chafariz não são suficientes para torná-lo o filme memorável que prometia ser. Slumdog Millionaire tem mais méritos. Revelar a Índia como ela é - ou seja, com níveis de miséria e criminalidade que a novela das oito e os entusiastas dos BRICs fingem não ver - e fazer isso na linguagem crua e cortante típica do diretor Danny Boyle (roteirista de Trainspotting), usando como pano de fundo a atual febre das "celebridades populares" da TV, são seus grandes trunfos. O último minuto do filme (antes da exibição dos créditos, que é uma verdadeira homenagem a Bollywood) acaba sendo um dos desfechos mais piegas da história do cinema, mas não chega a comprometer o conjunto da obra. Provavelmente, será o premiado da vez, obviamente pelos motivos políticos: fala de temas "moderninhos" (Índia, tragédias sociais e o sonho da riqueza) e tem um final romântico, acalentador para espectadores no meio de uma megacrise financeira.

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