terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Errante


Talvez a "letra E" mais presente na minha vida seja a de errante.
Não me lembro da minha primeira migração mas a história oficial conta que foi aos 2 anos de idade, quando meus pais me levaram da minha querida Belém do Pará, onde nasci, para Oeiras (cidade que fora, em tempos coloniais, capital do Piauí). Curioso as duas cidades (Belém e Oeiras) serem homônimas de cidades portuguesas. Não sei o quanto isso é revelador de nossas influências coloniais... foi uma idéia que só me ocorreu agora.

De Oeiras, onde vivi dos 2 aos 6, tenho poucas lembranças. Um pátio amplo na frente da casa, com um grande portão separando-o diretamente da calçada. Nas minhas recordações caleidoscópicas, havia uma praça em frente - lembrança esta negada pelos meus pais. Eu adorava ir ao pátio para ver a rua, jogar bola com meu pai e ler gibis (segundo minha mãe, não sei com quanto exagero de uma escorpiana, a partir dos 2 anos eu já me aventurava nas letras). Lia os gibis em uma pequena cadeira de espaguete verde-claro (miniatura da que está na foto abaixo) e foi num deles que vi o anúncio de um uniforme do homem-aranha, com uma máscara de borracha (bastante inadequada para o calor piauiense, mas qual criança se importa?). Também era nessa cadeira que costumava comer pudim em um pyrex em frente à TV, vendo Sítio do Pica-Pau Amarelo. Recordo ainda o choro e a lamentação de uma vez que deixei o pyrex escapulir-se da minha mão e partir-se no chão. Lembro-me de um vizinho, ainda mais novo que eu, chamado Aldinho, que quando queria água pedia "ábum". Lembro-me de fugir, de vez em quando, para a casa do Dito e do Bita - na minha memória, já pré-adolescentes -, que eu tinha como meus grandes amigos. E isso é tudo o que vejo no caleidoscópio quando olho para Oeiras.









Aos meus 6 anos, quando a memória consciente começa a ficar mais sólida, rumamos para José de Freitas, mais uma escala no interior do Piauí. De lá, recordo-me de amigos e histórias que merecem mais espaço, em outros posts.

Aos 9 anos, a próxima escala em companhia dos meus pais seria Teresina, a capital que homenageia o nome de Teresa Cristina, esposa de D. Pedro II. As escalas seguintes já seriam aventuras solitárias, depois de meus pais assentarem-se em Teresina e transformarem a cidade no porto seguro para onde retorno de quando em quando. A motivação em ir para a capital eram meus estudos e, de fato, uma das coisas de Teresina que carrego no coração é o glorioso Instituto Dom Barreto (IDB), que também terá mais espaço em outros posts.











16 anos e uma nova parada (a quinta, se o leitor ainda não perdeu as contas): São José dos Campos, interior de São Paulo, mais uma vez por motivos de estudo - dessa vez, a faculdade. O primeiro vôo solitário a um lugar desconhecido e a temporada joseense também merecerão posts específicos. Mas cumpre lembrar que foi lá que aprendi a MOCHILAR (meu verbo preferido): de explorações no sul-sudeste do Brasil a incursões no velho continente, La Poderosa (na foto ao lado) tornou-se minha companheira inseparável. E a partir de lá que tomei as próprias rédeas de meu papel de errante.

22 anos. Formatura e, mais uma vez, malas prontas. Dessa vez, para trabalhar na Sampa City, a cidade que adotei (ou que me adotou, sei lá). Das cidades onde vivi depois da infância, São Paulo foi a que, de fato, mexeu favoravelmente com meu coração - e isso não se deu na esquina da Ipiranga com a São João, apesar do ótimo Bar Brahma ali presente, mas talvez na Av. Paulista. Há outras terras que conheci de passagem e que igualmente - ou até mais - me encantaram. Mas Sampa eu quis que fosse - e quero que seja (sempre) - uma "passagem duradoura".

Para manter o padrão de 1 cidade a cada 4 anos, surgiu inesperadamente, aos 28 anos, uma escala temporária (de 2 anos) em Belo Horizonte, Minas Gerais. O que me chamou foi um mestrado (cujo convite me chegou no meio de um mochilão na California!) e é de BH que escrevo as primeiras linhas desse blog.

Próxima parada será um retorno a Sampa. A seguinte... não faço idéia! Mas, como diz um primo a meu respeito, "sou errante porque erro muito". Concordo. E pretendo continuar errando... cada vez melhor.

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