domingo, 28 de dezembro de 2008

O mochileiro das galáxias em New York City


Outubro de 2006. O avião começou a sobrevoar a cidade por volta das 7h30. E que vista! O emaranhado de ilhas e portos com aqueles prédios gigantes e aquela profusão de luzes é realmente breathtaking. Às 8h, aterrissagem no JFK. No aeroporto, bem menos aporrinhação do que eu imaginava, e na rua, os tais 7 graus do WeatherChannel! Peguei um busão do airport service, que me largou perto da Times Square (só que àquela altura, eu não fazia a menor idéia de que estava perto da Times Square, nem sabia se isso era bom ou ruim!). Eu só sabia que a estação 103rd st, da linha 1 do metrô, me deixaria a uma quadra do hostel.

O METRÔ

Entrei em uma estação do metrô e descobri o tamanho da encrenca. O metrô de NYC é cheio de minúcias que são verdadeiras "pegadinhas" para quem não é familiarizado com elas:

1 - O sentido das linhas não é indicado pela estações das extremidades, mas por Downtown (& Brooklyn) e Uptown (& The Bronx), que são extremos da cidade.
2 - É comum que por uma mesma estação passem várias linhas. Isso torna a sinalização nas estações um festival de placas para todos os lados. E, no meio do monte de placas, é importante reparar se há ou não uma seta no início da placa. As placas sem seta indicam que o local apontado na placa é ali mesmo. As placas com seta apontam aonde ir para encontrar o local indicado. Bastante óbvio, mas, no meio da correria das pessoas e dos zilhões de placas, é comum não atentar para as setas e tirar conclusões erradas. Vi até nova-iorquinos mesmo caindo na pegadinha.
3 - Outra, que talvez seja a mais tricky, é que é comum várias linhas compartilharem o mesmo trilho em certos trechos e depois o trilho bifurcar e cada linha seguir para um lado. Assim, pode acontecer de você estar em uma plataforma por onde passem as linhas 1, 2 e 3 mas apenas a linha 1 seguir até a estação onde você queira desembarcar. Isso significa que, se você pegar o primeiro trem que passar naquela plataforma (sem reparar se é o 1, o 2 ou o 3, por exemplo), pode ir parar bem longe de onde gostaria.
4 - Existem peculiaridades algumas linhas. Exemplo: pelo mapa, a linha 1, sentido downtown, segue até a South Ferry Station. Só que, na prática, apenas os 5 primeiros vagões vão realmente até lá. Os outros ficam na estação anterior. Isso é indicado em placa e avisado pelo metroviário, mas não deixa de ser mais uma coisa que pode atrapalhar os desatentos e desavisados.
Obviamente que na primeira viagem de metrô eu não sabia de nada disso. Fui atentando à medida em que fui usando.
Outra coisa é que o metrô é centenário e isso é absolutamente visível, sem disfarces. Tem coisas que parecem não ter recebido nem um retoquezinho de tinta desde a inauguração!
Por fim, vale a pena dar uma planejada rápida sobre qual bilhete comprar. No final de 2006, os bilhetes eram vendidos na máquinas e existiam as opções "single ride", que custava $2, e "metrocard - unlimited ride", com preços de $7 para a opção 1-day e $24 para a opção 1-week. Assim, se for fazer mais de 3 viagens no período de um dia, é mais vantajoso comprar logo o metrocard de 1 dia. Detalhe: o metrô funciona 24 horas e o metrocard de 1 dia vale até as 3 da madruga. Se for fazer mais de 12 viagens no período de 1 semana, é mais vantajoso comprar o metrocard de 1 semana.


A CIDADE

Como é básico, a primeira coisa que um mochileiro faz (depois de largar a mochila em algum locker) é descolar um mapinha e começar a entender a geografia da cidade, fazendo um tradicional "fooling around".Pois bem... O primeiro passo para entender NYC é segmentá-la em 4 grandes regiões mais algumas ilhazinhas. As 4 regiões são Manhattan, Brooklyn, The Bronx e Queens. Conheci apenas a ilha de Manhattan. Concordo que isso dá uma visão enviesada da cidade, mas é lá que ficam 90% dos must-go places da cidade... e esses locais são muuuuuuitos.
Manhattan é uma ilha comprida no sentido norte-sul (ou uptown-downtown, respectivamente), com avenidas longitudinais e ruas transversais. Ou seja, as sagradas noções de paralelismo e perpendicularidade são respeitadas no traçado das ruas. Exceção feita à Broadway Avenue, que corta a ilha numa diagonal. No sentido leste-oeste, as avenidas são numeradas, sendo as principais as do centro - 5th, 6th e 7th. Depois da 7th, lado oeste da ilha, elas passam a receber nomes (Columbus Ave, Amsterdam Ave, etc). Quanto às ruas, elas são numeradas do centro para o norte (uptown). No lado downtown, elas recebem nomes.Na parte uptown, a divisa entre West Side e East Side é o Central Park, o maior parque urbano do mundo e um dos lugares mais espetaculares que já conheci!!!
O centro da ilha é a 42nd St, entre a 5th e a 7th Aves, que corresponde à região de Times Square - o festival de outdoors, neon e letreiros luminosos mais impressionante dessas bandas! Também próximo dali ficam o Empire State Building (prédio mais alto da cidade depois da queda do WTC) e o Rockefeller Center, que é o "shopping Iguatemi" de NYC.
Na parte downtown (sul de Manhattan), fica o centro financeiro - onde está Wall Street e onde ficava o World Trade Center. Também ficam lá os bairros das grandes colonias de imigrantes - Chinatown e Little Italy. (Little Brazil fica na 46th St, mais no centro). E bem ao sul da ilha fica a South Ferry Station, de onde partem ferry boats para as ilhas onde ficam a Estátua da Liberdade e o museu da imigração (Ellis Island) e para New Jersey. Esses percursos de ferry boat duram coisa de meia hora.A ilha de Manhattan é conectada por pontes ao The Bronx na parte norte e ao Brooklyn na parte sul. O Queens é uma região vizinha ao Brooklyn.

O HOSTEL

Atenção, mochileiros! Não esperem do HI-NY a mesma qualidade dos melhores hostels do mundo (como o Milhouse de Buenos Aires ou o Le D'Artagnan de Paris). Eh um hostel comum, sem grandes diferenciações. Só que, como é mais caro que a média ($30 um 12-bedded para associados), acaba decepcionando por não ser também melhor que a média. Não tem café incluso, mas eu gastava cerca de $4 para tomar café na cantina deles. Fica na esquina da Amsterdam Ave com a 103rd St, a uma quadra do metrô, 3 quadras do Central Park, 3 quadras de uma filial da NY Public Library (100th St, entre Amsterdam e Columbus Aves), onde se pode acessar internet gratuitamente (no hostel, custa $0,10, com preco mínimo de $2) e tem supermercado a umas 5 quadras. Apenas no dia em que fui embora, descobri outro hostel que me pareceu mais interessante - Central Park Hostel - a meia quadra do parque. Fica anotado para a próxima ida...

O CENTRAL PARK

Como o check-in no hostel era somente à 16h e cheguei lá às 11h, deixei o mochilão no locker e fui dar uma volta no Central Park. Caras... que lugar é aquele?!!! Não dá mais vontade de sair de lá!!! A área do parque se estende longitudinalmente por 52 quadras e tem um sem-número de jardins (Shakespeare Garden, Strawberry Fields, Hans Cristian Andersen's, Alice in the Wonderlands), campo de futebol, quadra de tênis, várias lagoas e um lago maior e que eles chamam de The Reservoir Jackeline Kennedy Onassis. O Reservoir fica bem no centro do parque e tem uma pista circular de terra ao redor onde a galera vai correr. (Na verdade, a galera mais profissa nas corridas corre no percurso que circunda o parque inteiro, mas achei o Reservoir o lugar mais show pra correr). Tem inclusive um velhinho por lá, apelidado de "prefeito do Central Park", que foi o primeiro cara a correr ao redor do Reservoir. Na boa... a pessoa que viver ao lado do Central Park e puder todo dia dar uma corridinha ou uma passeada descompromissada por lá não pode se queixar a respeito de qualidade de vida!


















DOWNTOWN E AS BALADAS


Depois do passeio no Central Park e do check-in no hostel, as três noites de pouco sono que tinham se antecedido pesaram mais e acabei capotando. No dia seguinte, fui conhecer o centro financeiro - Wall St e o WTC - e fiz a foto com o touro da Bolsa de NYC, que ainda será histórica e valerá milhões de doletas, hahahaha! Eu a chamo de The Taming of the Bull, ou, em português, O Touro Domado.

















Pra terminar o dia, uma baladinha na Bleecker St, uma rua no centro cheia de barzinhos com música ao vivo. Como os bares eram "free admission", fui entrando em cada um e curti muitíssimo. A segunda coisa que adorei (a primeira foi a entrada de graça!) foi uma lei que vigora em alguns estados americanos (New York entre eles) que proíbe que as pessoas fumem em lugares fechados, o que inclui as baladas. Vocês têm noção do que seja isso? Balada sem fedor... roupas sem fedor na volta pra casa... ambiente respirável... simply great!!! O barzinho que curti mais foi o The Red Lion e o que fechou a noite não podia ter nome mais sugestivo - The Bitter End. Dia seguinte... domingão. Dia de tradicional passeio pelo centro de NYC: Times Square (que inclui o painel da Nasdaq, o Hard Rock NY, outdoors das mais de 10 peças da Broadway em cartaz, Bubba Gump e, como em todas as esquinas dos EUA, uma Starbucks), Rockefeller Center e, por fim, o observatório médio do Empire State no 86o andar (o mais alto fica no 103o). O elevador sobe tão rápido até o 80o andar que o painel vai pulando os andares de 10 em 10 e a gente tem aquela mesma sensação de tampão nos ouvidos que temos em decolagens e aterrissagens de aviões.


A ESTÁTUA DA LIBERDADE E A BROADWAY

Fechando o dia, uma baladinha básica em um bar chamado Grooves, perto da Bleecker St e da NYU (New York University, a razão de haver tantos barzinhos por ali). Finalmente, a Estátua da Liberdade. A fila assusta, mas daí vale a máxima "tá no inferno, abraça o capeta!". Uma hora na fila, meia hora no ferry boat e lá está ela... a estátua. Além do aspecto histórico-cultural envolvido, foi criado ao redor da estátua, na ilha, um ambiente agradabilíssimo que, por si só, já faz o passeio valer a pena. E quando achei que já iríamos retornar a Manhattan, eis que o ferry boat segue para Ellis Island, a ilha onde ficava o controle de imigração entre 1890 e 1920. Nessa época, centenas de milhares de europeus embarcaram em navios, fugindo da miséria, rumo à terra que eles viam como lugar de prosperidade. Após meses no navio, a primeira visão que eles tinham de New York era a Estátua da Liberdade. Os navios, então, paravam em Ellis Island, onde os imigrantes eram registrados. Com a redução do movimento e a massificação do avião como meio de transporte transcontinental, o serviço na ilha foi desativado e somente nos anos de 1990 foi criado um museu da imigração, reconstituindo o lugar. Durante esse passeio, lembrava-me constantemente da cena do "Poderoso Chefao 2", com a chegada de Vito Corleoni à América.
























E para encerrar o dia, uma Broadwayzinha vai bem! Para manter a tradição dos "first time visitors" de New York, fui de "Fantasma da Ópera" (embora sinceramente preferisse "Spamalot", que jah estava com ingressos esgotados). Como eu já tinha tido uma péssima experiência com "Les Miserables" no Brasil (muita produção pra pouca atuação), fui de "pé atrás". Mas taí que o espetáculo me surpreendeu positivamente! De fato, o cara que fazia o Fantasma não me agradou e a qualidade de várias cenas ficava mesmo só por conta da produção e da trilha sonora genial do Andrew Lloyd Weber. Mas a Kristine, o Raoul e o elenco de apoio davam conta do recado e achei que o resultado ficou bom. Talvez pela própria trama do Fantasma não ser tão densa quanto dos Miserables, a peça fica realmente mais "broadwayable". Por fim... último dia em NYC, uma passada no American Museum of Natural History e no campus de Columbia, ambos na região do Central Park. À noite, Halloween! Interessante como o Halloween parece o carnaval de lá. As pessoas andam pelas ruas fantasiadas (rumo às festas e concursos de fantasias) e eufóricas! Bem divertido!



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