sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Meta de inflação: que bicho é esse?


Como um dos temas do blog é Economia, esse post explica o modelo adotado no Brasil desde 1999 para orientar as decisões de política monetária do Banco Central - o regime de metas de inflação (inflation targeting).

Nesse modelo, os instrumentos de política monetária (taxa básica de juros, depósitos compulsórios, etc) são dimensionados de modo a fazer um determinado índice de inflação em um período convergir para um valor anteriormente definido.

No caso brasileiro, o índice empregado é o IPCA, por 3 razões:
1 - é um índice ao consumidor, ou seja, à ponta final da cadeia, que é o objetivo do governo - o impacto da inflação sobre a população em geral;
2 - é um índice nacional;
3 - é um índice que abrange um amplo espectro de faixas de renda (de 1 a 40 salários mínimos).

Todo meio de ano (junho ou julho), em reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN - leia-se, ministros da Fazenda e do Planejamento e presidente do Banco Central), decide-se a meta de inflação para dali a um ano e meio e valida-se a meta para dali a seis meses.

A cada reunião do Copom, faz-se a projeção do IPCA do ano, para se decidir sobre a taxa Selic.

O Copom é o Comitê de Política Monetária do Banco Central, formado pelo presidente e pelos diretores do Banco. Atualmente, as reuniões acontecem a cada mês e meio e geralmente duram dois dias. Do primeiro dia da reunião, participam, além do presidente e diretores do banco, os chefes dos departamentos e gerências ligados às diretorias de política econômica e política monetária (Depec, Depep e Gerin; Deban, Demab e Depin) e outras chefias cuja presença se julgue relevante. Esse dia é deidicado a apresentações da evolução do cenário econômico no último mês - índices de inflação, crescimento, desemprego, inadimplência, balanço de pagamentos, taxas de juros nos mercados, risco-país, notícias relevantes sobre perspectivas internacionais ou sobre preços administrados... enfim, uma extensa pauta de temas que possam influenciar nas decisões de política monetária - taxa básica de juros, com ou sem viés, regras para depósitos compulsórios e redescontos. No segundo dia, presidente e diretores discutem acerca do que foi apresentado no dia anterior e decidem na base do voto. As decisões são anunciadas no mesmo dia. Ultimamente, tem sido praxe o anúncio das decisões somente após o fechamento das atividades do mercado financeiro no dia, para evitar tumultos especulativos (arbitragem predatória, por exemplo). Na semana seguinte, é divulgada ao público (acessível pelo site do BC) a ata da reunião, com explicações sobre como cada um dos itens discutidos no primeiro dia influenciou a decisão final. O modelo é inspirado no
Federal Reserve Board norte-americano, que promove reuniões mensais de seu comitê de política monetária, chamado FOMC.

Nas projeções de inflação feitas pelo Copom, pode-se optar por diversas metodologias - excluir sazonalidades (caso brasileiro), excluir preços administrados (não é o caso brasileiro), manter apenas o "núcleo de inflação", fazer o cálculo de "médias aparadas". Outra coisa que pode ou não ser adotada (e o é, no caso brasileiro) é uma margem de tolerância.Caso, no final do ano, o índice utilizado fique acima da meta (centro da meta mais margem de tolerância, no caso brasileiro), o presidente do Banco Central deve enviar uma carta aberta ao ministro da Fazenda, justificando o ocorrido.

Atualmente, alguns países que adotam formalmente o regime de metas de inflação são:
- na América do Norte: Canadá e México;
- na América do Sul: Brasil, Chile, Colômbia e Peru
- na Europa insular: Reino Unido e Islândia;
- na Europa nórdica: Suécia e Noruega;
- no Leste Europeu: Polônia, Hungria e República Tcheca;
- no restante da Europa: Suíça;
- na Oceania: Austrália e Nova Zelândia;
- na Ásia: Israel, Coréia do Sul, Tailândia;
- na África: África do Sul e Egito.

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