sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O palhaço de Notre Dame


Quem me conhece sabe da antipatia que tenho por franceses. (Na verdade, não sei se é por franceses ou especificamente por parisienses, dado que até hoje só conheci uma francesa não parisiense - Sandrine, de Lyon - e ela era muito agradável, além de ser gata e falar inglês).
Pois eis que era janeiro de 1999 quando eu estava mochilando pelo Velho Continente e, após um memorável revéillon em Barcelona (digno de um post no futuro) e após muito enchimento de saco por parte de um amigo que fazia esse trecho do mochilão comigo, fui convencido a embarcar em um TGV para Paris.
Uma moça no trem andava pelo corredor saudando todo mundo com um "Bon Anné, Bon Anné", o que parecia muito hospitaleiro, mas, dito em francês, me soava falso e irritante. O TGV era bem mais caro que os outros trens que peguei pela Europa mas, obviamente, era bem mais confortável pois era totalmente leito. Aquela foi a melhor dormida em trem na minha vida. Mas, como franceses (ou parisienses, sei lá!) têm o talento inato para a inconveniência e a arrogância, o fiscal de fronteiras veio perturbar meu sono quando o trem adentrou o país e, ao ver meu passaporte verde-escuro, falou com um risinho de canto de boca: "Brésil? Zidane!" Eu o mandei à merda em inglês, aproveitando que todo francês típico finge que não entende a língua que os passou pra trás.
Chegando a Paris, conheci:
- uma cidade relamente muito bonita (especialmente a região de Champs du Mars, ao redor da Tour Eiffel), mas beeeeeeeem menos charmosa que Viena e Buenos Aires;
- uma comida realmente deliciosa (até o café da manhã num McDonald's é saboroso!);
- um povo extremamente antipático, que fala com cara de poucos amigos e finge não entender inglês;
- um dos melhores albergues que já conheci (Le D'Artagnan, da Hostelling International), onde tinha um ótimo jantar e até um cinema!;
- uma fila interminável para visitar coisas sem graça no Museu do Louvre (incluindo o quadro da Mona Lisa, que é minúsculo e, cercado de japoneses com câmeras, fica quase invisível);
- excêntricos visitando túmulos do Jim Morrison, do Alan Kardec e do Oscar Wilde no cemitério Peré Lachaise;
- a beleza e a imponência do Palácio de Versalhes, desde os intermináveis jardins até o Hall dos Espelhos;
- um sistema de metrô muito bom, mas com usuários (franceses, obviamente) fedendo, abraçados com cachorros e pulando catracas;
- a imponência do Arco do Triunfo e da Champs Elisées; e, finalmente...
- a Catedral de Notre Dame, palco da mais cômica estripulia que me lembro de ter feito em mochilões.


Como disse, era mês de janeiro... e ventava absurdamente na cidade. Não era um vento agradável e refrescante, como o leitor pode estar imaginando. Eram verdadeiros tufões, rajadas que lhe empurravam para trás quando você andava na rua! Supus que fosse um fenômeno típico dos meses de inverno por lá, porque todos os pontos turísticos que tinham partes altas (Torre Eiffel, torres de catedrais, etc) estavam com proibições de acesso a esses setores, creio que para evitar acidentes com turistas voadores.
Como o leitor é bastante perspicaz, já deve ter deduzido que, quando visitei a catedral de Notre Dame, a torre mais alta estava fechada pra visitação (suponho que por causa do vento muito forte). E isto aparecia em avisos afixados na entrada da catedral, escritos em vários idiomas, dentre os quais o português. Mas é aí que chegamos ao início da historinha. O aviso em português dizia:
A TORRE DA CATEDRAL VAI FICAR FECHADA ATÉ ABRIU.
Ao mesmo tempo em que imaginei que o mês de abril marcasse o final da temporada de ventos fortes, incomodei-me com o flagrante e escandaloso erro ortográfico do "ABRIL" escrito com "U" no final. Afinal, um povo que tanto me torrara a paciência para que eu admirasse a língua dele aparece, num rompante, aviltando a minha!
Não me contive e fui reclamar (em bom inglês, para ficarmos na neutralidade entre as partes) com a moça responsável pelos avisos.
- Com licença. Sou brasileiro, nativo de língua portuguesa, e estou incomodado com um erro orotgráfico gritante que vocês cometeram no aviso em português. Acho que vocês devem tratar com mais cuidado as línguas dos outros!
Surpreendentemente, a moça mostrou-se preocupada, desculpou-se, e prontamente sacou uma caneta para corrigir o erro.
- Qual a grafia correta, senhor?
- ABRIL não se escreve com U no final, mas com... ... ... R!
Ela empunhou a caneta e corrigiu o aviso, conforme minha recomendação:
A TORRE DA CATEDRAL VAI FICAR FECHADA ATÉ ABRIR.

2 comentários:

  1. Sacanagem da tua parte, foi indelicado com a unica pessoa que lhe foi gentil.
    E sim, é só Paris q tem povo sem educação, muito parecido com o Brasil inclusive.

    ResponderExcluir
  2. HAHAHAHAHAHAHA ... o outro cara se mordeu, ahahahahhahahaha

    É isso mesmo ós parisiense são um bando de otários ! ! !

    ResponderExcluir